(texto escrito por Rita Castanheira Alves, a Psicóloga dos Miúdos)
Dar
limites é orientar. É ensinar e mostrar aos filhos onde é o começo e onde é o
fim, onde estão as barreiras que definem as suas acções e comportamentos. Não
se trata de uma aprendizagem automática, implícita no nosso código genético. A
aprendizagem de limites é feita com quem educa os miúdos, com os adultos
significativos e presentes nas suas vidas, de forma activa, onde se incluem os
pais, mas não só.
Ter
limites é fundamental para o crescimento de qualquer criança, para que tenha
uma noção clara de si mesma no mundo, para que
saiba até onde pode ir e em que momento deve parar, porque aí começa o direito
do outro, e para que consiga distinguir o certo do errado. Tais noções permitem
estabelecer contacto com as primeiras aprendizagens acerca do funcionamento do
mundo lá fora, para além da sua própria casa. É como criar um «minimundo de treino»,
que pode ajudar os mais novos a crescer com a capacidade de lidar com os
limites e regras inevitáveis do exterior e, consequentemente, com a difícil
frustração e a contrariedade, desenvolvendo estratégias para lidar com as
mesmas. Os limites são reguladores emocionais das crianças, devolvendo-lhes
calma e segurança, pela percepção e pela aprendizagem do que é suposto, do que
não é, do que é bom, mau, apreciado e julgado.
Mas,
afinal, o que é dar ou estabelecer limites?
Dar limites é saber dizer não, dar e explicar em troca o sim, explicitar o que é hipótese e o que não deve ser hipótese, estabelecer as regras e o que é esperado, limitar o que não se pode fazer e o que é permitido e ser consistente e coerente nesses limites. É um jogo para jogar desde que os filhos são pequenos, começando por noções básicas de identificação e não permissão de certos comportamentos ou acções e de ajuda para chegar aos adequados.
Quando é
ensinado demasiado tarde, este jogo é excessivamente difícil para pais e
filhos. Principalmente se a criança tiver passado alguns anos sem limites e se
se deixar ao seu cargo a criação dos mesmos. No caso dos adolescentes, mais
ainda se impõe a necessidade de ter sido criada uma base de limite, de
proibição e permissão e de conhecimento das regras fundamentais.
Com a chegada da adolescência, chega também o desafio, a oposição, o investimento mais sério numa identidade independente e, inevitavelmente, a tendência para ir contra aquilo que está estabelecido. É um momento de muita negociação. É uma fase que exige que tudo aquilo que é fundamental seguir e não quebrar já esteja estabelecido e cimentado, sendo a negociação o meio de estabelecimento de limites privilegiado.
A criação
de imposições deve ser feita sempre pelos adultos, nunca pelas crianças. O
desafio e a oposição dos mais novos não deve ser motivo para que se quebrem as
regras. Os limites devem existir nas rotinas da família e da criança, do espaço
ao tempo: limitar o espaço de cada um, a cama de cada um, limitar o tempo que
se dedica a cada tarefa e qual é o momento e o local para determinado
comportamento ou acontecimento.
Para os
pais, limitar é também uma aprendizagem que poderá, em determinados momentos,
mostrar-se difícil. Esta dificuldade pode advir de diversas situações, seja
pela própria história de vida dos pais, da sua infância, da experiência de
gravidez/adopção ou dos primeiros meses de relação, seja por culpa ou por
receio de prejudicar os filhos, seja por
sentirem que são maus pais ou pelo receio de não serem amados, seja porque
receberam eles próprios uma educação excessivamente autoritária ou
excessivamente permissiva, levando a que possam ser, consequentemente,
excessivos em permissividade e/ou autoritarismo e limitação.
Na
educação de um filho, quando os pais tentam estabelecer os limites, a
consciência, a reflexão e as suas dúvidas sobre a forma como estão a fazê-lo,
como se sentem a fazê-lo e as causas do que sentem são questões essenciais para
que se ajustem alguns pontos importantes. Adultos que não conheceram limites na
infância e na adolescência podem passar (ou fazer outros passar) por sérias
dificuldades. São adultos que tendem para o narcisismo e para uma omnipotência,
acabando, às vezes, por ficar sozinhos ou, em certos casos, por fazer sofrer as
pessoas próximas em diferentes contextos das suas vidas. Inevitavelmente, o
confronto com o limite acontecerá; se em criança os pais poderiam fazer
desaparecer ou atenuar o limite, em adulto tal pode não acontecer. Sem
aprendizagem não se conhecem limites, nem se está preparado pata lidar com a
existência dos mesmos.
É
essencial que os pais ditem as regras e os limites do jogo. É
fundamental que saibam dizer não e que os filhos saibam aceitá-lo. É fulcral aprender, passo a
passo, e reflectir sobre como limitar, quando limitar e em que situações. Os
pais devem saber e confiar que são capazes de ditar limites, ou que podem
socorrer-se da ajuda de outros adultos, e, mais do que isso, que têm de o
fazer. Devem saber que nem sempre o «refilanço», a reclamação ou o choro
significa que o que fizeram é prejudicial para os miúdos. Devem saber que nunca
é tarde para, pelo menos, tentar.
O que estou a fazer? — Reflexões sobre o processo de
limites
Em todo o
processo de estabelecimento de limites, difícil, cansativo e exigente, vá
reflectindo e recordando:
Rita Castanheira Alves, Psicóloga dos Miúdos
"Devem saber que nem sempre o «refilanço», a reclamação ou o choro significa que o que fizeram é prejudicial para os miúdos." é a minha parte preferida. Eu sei disto, mas creio que alguns pais de alguns dos meus alunos não sabem...
ResponderEliminarConcordo inteiramente! Ensinar os limites, o respeito pelo outro, é uma forma de amar os nossos filhos. E as regras começam desde o berço porque quanto mais tarde for mais confuso se torna para a criança e corre-se o risco de não dar em nada.
ResponderEliminarBeijinho
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