quinta-feira, 16 de outubro de 2014
A minha maior dificuldade enquanto mãe
Há uma coisa que me anda a preocupar e não é de agora. Aliás, não só não é de agora, como se tem vindo a agravar em vez de melhorar.
Todas as mães se preocupam com os seus filhos. Que eles caiam e se magoem, que eles se percam, que eles se lembrem de fazer algum disparate que ponha em causa a sua integridade física… Bem sei que não é possível os protegermos do mundo, mas todas as mães o tentam fazer de uma maneira ou de outra.
Há mães que são mais descontraídas que outras. Eu, infelizmente, não faço parte desse leque. E por mais que o queira, o Gonçalo não me dá qualquer espaço para isso. Ele lembra-se de cada coisa e faz com cada coisa, que me deixam sem fôlego, literalmente. Pior. Está a piorar com a idade! Eu a pensar que à medida que fosse crescendo ele ia conseguir medir mais os perigos, mas não… Ando sempre com o coração nas mãos e em constante sobressalto. SEMPRE!
Há duas semanas, por exemplo, foi o descalabro. Resolveu fugir dos avós e, imaginem, ir para a estrada. Para a estrada!!! E eu conheço o meu filho. Decerto que nem deu hipótese aos meus pais. E olhem que ele está careca de ouvir a conversa de que não o pode fazer porque é muito perigoso e os carros podem fazer-lhe muito mal… mas, mesmo assim, lembrou-se de, sem mais nem menos, largar a mão e fugir!
Estão a imaginar o que poderia ter acontecido?! (eu nem quero imaginar!)
Os meus pais ficaram uma pilha de nervos e eu quando soube tanto me deu vontade de lhe bater, como de o abraçar e beijá-lo de alívio por ele estar ali, são e salvo. Mas querem saber o pior? Quando ralhei com ele e lhe perguntei onde é que ele estava com a cabeça, já que ele sabe perfeitamente que é perigoso, ele disse-me que estava a brincar que era um super-herói e que corria mais que os carros!
Entre a incredibilidade perante a resposta que ele me deu, expliquei-lhe, mais uma vez, que os super-heróis não existem a sério e que por isso não podemos brincar na rua a fingir que temos poderes. Que as outras pessoas, as que estão nos carros, não sabem que estamos a brincar, não nos veem e pode acontecer um grande acidente. E que ao contrário do que ele faz com os bonecos a toda a hora, em que eles morrem e acordam, quando se morre a sério, não se acorda nunca mais…
Confesso que me sinto perdida nesta área e não sei como agir. Não sei o que lhe dizer mais para que ele perceba. Ele parece que nem me ouve!
Nesse dia ainda o castiguei, mas é claro que o medo de que ele faça um disparate e de que eu não o consiga proteger atormenta-me imenso e tira-me o sono.
Sei que é suposto seguirmos o princípio da frase que ilustra o texto - uma frase belíssima, cheia de inteligência e de bom senso - mas, decididamente, essa missão está a ser para mim, enquanto mãe, a minha maior dificuldade e pesadelo!
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Na minha opinião o melhor a fazer nesses casos é mostrar-lhe o mundo real e as reais consequências dos seus atos. As vezes é preciso chocá-los e leva-los aos hospital por exemplo e mostrar pessoas magoadas e feridas por acidentes aí sim ele ira ficar chocado e perceber a diferença entre o mundo real e o imaginário mundo das brincadeiras. As crianças de hoje são muito mais inteligentes do que imaginamos....
ResponderEliminarUma amiga minha disse-me uma vez que no dia em que o filho dela nasceu, ficou com o coração apertado. Mas o pior era saber que esse nó nunca mais se iria desfazer. Sabia que acontecesse o que acontecesse, e independentemente da idade que o filho pudesse ter, o seu desejo mais profundo era que ele estivesse sempre em segurança, e isso, é uma coisa que controlamos muito menos do que o que gostaríamos.
ResponderEliminarUm ano depois nasceu a minha filha e tanto sentido que as palavras dela me fizeram!
A minha estratégia é deixar a A. magoar-se. Parece cruel e contrário à nossa natureza mas é o que faço. Sempre que vejo que está a fazer alguma coisa que tenha algum (pouco) grau de risco, eu faço um aviso (às vezes 2 ou 3) e explico uma vez. Depois deixo-a escolher o que pretende fazer. Se fizer um galo, cair de rabo ou magoar um bocadinho um dedo, não é muito grave mas o que ela aprende é valiosíssimo.
Primeiro, percebe que “o que a minha mãe está a dizer é mesmo verdade” e às vezes, acontecem coisas que não gostamos. Por outro lado, ganha a noção de que eu faço uma parte da protecção, mas ela também tem um papel na protecção de si-mesma. Por exemplo, uma vez pegou numa tesoura que estava na mesa. Eu olhei para ela (que já estava a olhar para mim) e nada disse. Mas a minha sogra tirou-lhe a tesoura imediatamente da mão (a protecção veio do exterior). Já noutro dia, pegou numa faca de cortar que estava na mesa (que já sabe que não deve). Percebi que estava a pegar muito devagarinho (e até um bocadinho a medo) e olhou imediatamente para mim. Eu olhei para ela e não disse nada. Ela reagiu perguntando “é pigoso mamã?” eu disse que sim, que se podia cortar e que quando fosse mais crescida ia aprender a usá-la. Estendi a mão e ela deu-me a faca. Como eu não reagi protegendo-a imediatamente, ela teve que assumir parte da responsabilidade e sentiu-se obrigada a proteger-se.
Com isto, ela já percebeu que existem diferentes graus de perigosidade e que, quando a impeço mesmo de fazer alguma coisa, então é porque é meeeesmo grave. Quando comecei a andar com ela na rua sem lhe dar a mão, disse-lhe “NUNCA corres para a rua. É muuuito perigo!”. E agora, habitualmente, é ela que me diz apontando para a estrada, “estão a passar popós... é pigoso”. Claro que eu NUNCA baixo a guarda. Deixar acontecer dentro de uma certa área de segurança, não quer dizer não estar atento e não ajudar e consolar a seguir. Descobrir que o mundo não é feito de super-heróis (pelo menos os dos desenhos animados) não é fácil nem pacífico.
Não sei se já faz isto, mas comigo tem resultado. O que não quer dizer que vá resultar para sempre. Estou sempre a adaptar as estratégias e a ajustar à fase em que se encontra.
Não os vamos poder proteger sempre, e por isso, a melhor protecção é mesmo ensiná-los a fazerem-no por eles próprios. A questão da fantasia (os super-heróis) é saudável mas aplicada a estes contextos, dá-nos cabo do coração. Mas se lhe der uma certa dose de realidade, penso que vai ajudar a separar. Desculpe o testamento. Boa sorte e abraço.
Não peça desculpa pelo testamento. Qual quê?
EliminarÉ desta partilha e destas dicas que eu preciso e gosto. Muito obrigada mesmo! :) Beijinhos