quarta-feira, 24 de outubro de 2012
A amamentação e as pressões sociais
Estive a ler há minutos mais um daqueles artigos que defende a amamentação e lembrei-me da minha situação quando o Gonçalo nasceu. Acho que sim, que amamentar tem mil vantagens para o bebé e o momento em si é, de facto, único, mas sou veemente contra toda a pressão social que existe à volta deste tema. E muitas vezes esta pressão começa logo na maternidade, pelas mãos dos próprios profissionais de saúde.
Como para abordar este tema vou ter de falar, inevitavelmente, de mamas, desculpem desde já os mais púdicos. Mas não há volta a dar.
Quando o Gonçalo nasceu puseram-no logo ao meu peito. Foi uma experiência mágica e indescritível. No entanto, depressa percebemos que não lhe estava a ser fácil mamar, visto que o meu mamilo não era saído (tinha o mamilo invertido). Lá pedi ao Marco para comprar mamilos de silicone (coisa que eu nem sabia que existia) e tentámos solucionar assim a situação. O Gonçalo lá ia mamando, mas a coisa não estava a funcionar a 100%. Ele estava a crescer bem, é um facto, mas demorava 1h30m a mamar e mamava de 3 em 3 horas. Ou seja, eu ficava com cerca de 1 hora e 30 minutos entre cada mamada (uma expressão deliciosa que fez com que o Marco e eu nos partíssemos a rir a primeira vez que a ouvimos numa consulta. Mas isto é um à parte :) ). Continuando... como compreenderão, chegou uma altura em que eu andava de rastos e o meu pequenito também. Depressa o momento da amamentação deixou de ser mágico, para se tornar uma tortura para ambos. Mas eu insistia, porque toda a gente dizia que fazia bem ao bebé, que o meu leite lhe ia dar mais defesas e havia nas entrelinhas a mensagem, da parte de várias pessoas, que uma boa mãe dá de mamar e que uma má mãe desiste...
Tentei seguir as mil e uma dicas que me davam para facilitar o processo: estimular com bomba, não deixar que ele ficasse tanto tempo em cada mama, mexer-lhe nos pés para ele não adormecer, puxar o mamilo com uma seringa com boca larga... mas não deu. Nada resultou!
Dois meses depois dele ter nascido eu ainda lhe dava mama, mas já o fazia sem prazer nenhum. Pelo contrário! Todo o processo era cansativo, esgotante e um stress absoluto. Para os dois! Não aguentei e aos dois meses e meio deixei de dar de mamar. Não o fiz de ânimo leve e muito menos sem culpas!
Hoje, à distância, acredito que foi o melhor que fiz! O Gonçalo começou a comer que era uma maravilha e notei imediatamente que ele ficou muito mais sereno e tranquilo e muito mais saciado.
Adorei poder dar-lhe de mamar, mesmo que tenha sido pouco tempo, mas sofri imenso ao querer prolongar uma situação que, claramente, não estava a resultar. Fi-lo, exatamente, pelas pressões sociais de que falei no início do texto. Por toda a gente dizer que o devia fazer, com aquele tom acusatório de que se não o fizesse não estaria a ser uma boa mãe. Como se já não bastassem as inseguranças a que as mães estão sujeitas quando nasce um filho...
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Eu pelas mesmas pressoes sociais ia matando a minha 1ª filha a fome, qdo na consulta de 1 mes a pediatra a pesou e ela pesava menos que no dia do nascimento deu-me logo uma lata de leite.
ResponderEliminarDa 2ª filha ja nao fui na conversa, comprei logo a latinha de leite.
Maggie
Pois, esse é o problema. É estarmos tão fragilizadas que nos deixamos levar, em vez de ouvirmos a nossa intuição!
EliminarAmamentei a minha filha 3 dias apenas. Sangue, dores...e uma raiva crescente advinhava uma depressão pós-parto (não a queria perto de mim e o pai ficava desesperado de me ver a ser hostil com o nosso bebé). As enfermeiras pressionavam-me, o mundo pressionava-me...e eu chorava porque aquele momento (de 2 em 2 horas) me afastava da minha filha. Ao fim de tres dias - quando parei - resolvi tirar leite com bomba e alimentá-la assim. Punha o despertador para as 5h da manhã, ia fazer de vaca leiteira durante 3 horas para ela ter leite o dia inteiro. Ao fim de um mês passou do percentil 75 para o 25 (parecia um rato). Decidi sozinha que já chegava. Comprei as latas de adaptado e caguei na enfermeira. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Cresceu em peso, em energia e a nossa relação tornou-se, finalmente, de mãe e filha.
ResponderEliminarQue situação Gi! :( Ainda bem que ouviu o seu coração e deixou de lado teorias que teimam em querer aplicar a TODOS os bebés e mães.
EliminarQuando comecei a ler quase podia ser um testemunho meu :) a diferença foi que a pediatra da Guigas me fez uma sessão psicológica qualquer e não sei como perdi o stress e a princesa passou a mamar em 10 minutos, recuperando o peso e ficando td óptimo... a médica na altura disse que ela se tornou profissional de mamar :) mamou até aos 14 meses :) sei que naquela altura dos 2 meses em que estive quase a desistir me valeu essa força :) dava suplemento uma vez por dia e no resto das vezes tentava dar mama. ao fim de 15 dias deixei de dar o suplemento e voltei a amamentar em exclusivo. Sei que sou uma excepção e agora estou grávida e na expectativa para ver como será, mas compreendo tão bem as mães que quase ficam loucas por causa disso :) Já socorri umas quantas porque sei que com ajuda é MESMO muito mais fácil
ResponderEliminarQue bom Rita :) Ainda bem que a situação se reverteu. E sim, creio que a Rita deve mesmo ser uma exceção. Muitas felicidades para a sua gravidez. Que bom :)
EliminarEu amamentei por ele, por saber que, quer queiram, quer não, é melhor para o bebé o leite materno, especialmente se o mesmo estiver a dar-lhe tudo o que precisa.
ResponderEliminarMas lá para os 4 meses desisti, o leite já não era o que esperava e ele ressentiu-se um bocadinho, pelo que começaram as ajudas externas.
Não achei uma experiência por aí além, confesso, nem sinto que quem amamente seja mais mãe (parvoíce pegada), simplesmente foi a minha escolha e a que voltaria a ter.
:) sim, claro. Quando as coisas estão a correr bem, e se a mãe se sentir confortável com a amamentação, acho que sim. Eu própria gostaria muito de ter dado mais tempo, mas dadas as circunstâncias, tal não foi possível. Por outro lado, se uma mãe não gostar de dar de mamar e ficar nervosa, irritada e ansiosa cada vez que tem de o fazer, então não acho que seja benéfico para nenhum dos dois. E como a Rosa diz, também acredito que, goste-se ou não, é uma escolha da mãe. Seja para dar, seja para não dar.
EliminarO meu caso é realmente muito semelhante, sem a parte da pressão dos profissionais de saúde porque o meu pequeno esteve internado nos primeiros 5 dias de vida. Não desisti porque o meu bebé aumentou imenso de peso com o meu leite e estava a desenvolver tão bem que achei que era o melhor para ele mas realmente os mamilos de silicone são um pesadelo realmente... mas eu tive muita sorte, no final do primeiro mês as mães da minha família disseram-me para deixar o menino puxar o mamilo...nos primeiros dias as dores eram imensas, mas realmente funcionou e ainda lhe dou de mamar (tem 9 meses), muito pelo mimo que nos proporciona aos 2! No entanto, concordo que cada caso é um caso e o melhor para o bebé é uma mamã feliz e confiante (dentro dos possíveis)!
ResponderEliminarPois Veggie, infelizmente, tentei isso demasiado tarde. Já praticamente não tinha leite, mas verifiquei que resultava melhor do que todos os outros métodos: bomba, seringa ou mamilo de silicone. É das tais coisas… se me tivessem dito antes…
EliminarBeijinhos
O meu processo de amamentação ao meu filho também foi semelhante, mas tive a vantagem de lhe dar sempre o suplemento, após tentar com mama, e tive também de usar os mamilos de silicone, que não deram em nada. Além de também sentir a pressão de amamentar, mais precisamente da família do lado do meu marido, que foram desculpem a expressão umas "vacas leiteiras" e ainda bem, mas eu não sentia a mama e encher, só algumas vezes e usei bomba e o máximo nem dava para 20 ml, mas ele sempre recebeu este leite misturado com o suplemento. Após a consulta ao meu ginecologista e de referir o que acontecia comigo ele disse que não valia a pena insistir e continuar com o suplemento e foi o melhor que fiz, deixei de estar horas com ele ao peito e dava-lhe logo o suplemento...e ele está lindo, mas a fase da amamentação para algumas mulheres é uma fase incrível e noutras isso não acontece, mas somos todas mães e queremos sempre o melhor para os nosso bebés.
ResponderEliminarExatamente. Ninguém é mais mãe por dar mama ou menos mãe por não dar!
EliminarNão amamentei. Sempre pensei que o viesse a fazer, mas depois as coisas acabaram por não correr como esperado. Quando acordei da anestesia e podia amamentar já ele tinha sido alimentado várias vezes com leite da latinha. Apesar dos esforços das enfermeiras, nos 5 dias que estive no hospital, não conseguimos que ele mamasse uma única vez. Em casa experimentei os bicos, forçar, tudo, ele não queria. Gritava de fome e teve de ir à latinha. Ainda tirei algumas vezes com a bomba, mas além de ser um tormento demorado que rendia uma pinguinha no fundo do biberão, ele simplesmente cuspia o leite todo. Numa semana em casa já não tinha leite nenhum. Felizmente, ele cresceu forte e saudável nunca me dando preocupações em termos de saúde. :)
ResponderEliminarAinda bem Heidi. É das tais coisas… nem tudo corre como desejaríamos e, nestes casos, acho que se faz demasiados dramas quando não se amamenta.
EliminarNinguém diz que não há vantagens. Claro que sim. Mas quando não dá, como aconteceu consigo, ou comigo, paciência. O que interessa é que tenham saúde.
Beijinhos e felicidades :)