sábado, 3 de dezembro de 2016

CONSULTÓRIO: Menos açúcar na vida das crianças

(Texto escrito por Cátia Teixeira, Psicóloga Clínica da Oficina de Psicologia)
Foto Pinterest
Recentemente, a “American Heart Association” publicou novas orientações que são, provavelmente, desanimadoras para as crianças que tanto gostam de doces, mas que são muito importantes para os pais. 

Nessas orientações pode ler-se que as crianças não devem consumir mais de 100 calorias por dia de açúcares processados, o que, basicamente, corresponde a menos de 1/3 daquilo que as crianças costumam consumir (embora os dados sejam referentes às crianças americanas, a realidade portuguesa não está assim tão distante). 

Para ficar com uma ideia, 100 calorias é o equivalente a um iogurte com aroma ou uma mãe cheia de pipocas de caramelo. A organização refere ainda que crianças com menos de 2 anos devem evitar o consumo destes açúcares por completo.

Estas novas orientações surgem também porque as pesquisas indicam que o açúcar tem propriedades que criam dependência, ou seja, ao se consumir açúcar e a obter prazer com o seu consumo, existem mecanismos que são acionados e reforçados e que fazem com que se passe a ter mais tendência para o consumo de açúcar. Isto é especialmente relevante para as crianças mais pequenas cujas papilas gustativas estão a ser modeladas pela comida que consomem, e muita da comida que consomem contêm elevados níveis de açúcar.

Já há muito que se sabe sobre as implicações que o consumo de açúcar tem na saúde, desde os aspetos relacionados com o excesso de peso, a diabetes, os problemas cardiovasculares… Em Portugal, 1 em cada 3 crianças apresenta excesso de peso, e os problemas que daí advêm surgem numa fase cada vez mais precoce. A verdade é que as crianças consomem cada vez mais açúcares, muitas vezes escondidos em alimentos que se pensam ser “inofensivos”.

Para além dos problemas de saúde física referidos, os estudos são indicadores de que o consumo de açúcar em excesso também contribui para o aumento das dificuldades de concentração nas crianças, uma maior irritabilidade e uma maior presença de sintomas de ansiedade e alterações de humor.

Perante estes dados e estas orientações, à parte de lhe sugerir que esteja atento ao tipo de alimentos que dá ao seu filho e que reduza (drasticamente) na quantidade de açúcar, deixo umas “pequenas grandes” sugestões:

- Não use doces como prémio pelo bom comportamento da criança;

- Mas também não dê guloseimas para eliminar birras e outros comportamentos desadequados (não só reforça o comportamento desadequado, como contribui para os problemas de saúde);

- Transforme o mimo cheio de açúcares processados em mimo cheio de abraços e afetos, este é o tipo de mimos que as crianças mais precisam e contribui para a sua saúde física e mental.


Cátia Teixeira, Psicóloga Clínica da Oficina de Psicologia

1 comentário:

  1. Totalmente de acordo. E também faço por agir de acordo com o que está no texto e, por isso, sou conhecida como fundamentalista. Os avós então só lhe faltava chorar por eu ser tão nazi ao ponto de não deixar a minha filha comer bolachas oreo antes dos 2 anos. Na verdade já tem 2 anos e meio e ainda não come (que eu saiba).
    Deixo-a comer um doces caseiros de vez em quando, no máximo uma vez por semana mas, quando vai para os avós, já sei que é a loucura.
    É preciso fazer muito mais para consciencializar as pessoas dos malefícios do açúcar. Apesar de haver cada vez mais informação neste sentido, as pessoas ainda acham que é tudo uma série de disparates de gente exagerada. :/

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