quarta-feira, 29 de abril de 2015

Um dia vais perceber!

[carta ao meu filho Gonçalo]

Estou de rastos. Com o coração apertado e a doer tanto que nem imaginas! Só me apetece chorar. Aquele chorar que vem do coração e da alma!

Andas reguila. Malcriado mesmo. Devo estar a errar de algum modo, mas por falta de amor e carinho não é. Isso tens de todos os lados!

Também te tentamos impôr disciplina, mas receio que seja aqui que estamos a falhar. Não o devemos estar a fazer da forma correta.

Não sei!

Sei que hoje passaste das marcas. Comportaste-te como um menino sem educação alguma e não posso admitir uma coisa destas. Quanto mais não seja por ti. Pelo teu futuro.

Não quero que te olhem de lado. Não quero que não tenhas amigos. Não quero que sejas do género de pessoa que afasta os outros...

És muito doce, mas ao mesmo tempo andas a ter comportamentos muito agressivos... e hoje, como te disse, passaste os limites. E eu zanguei-me com mais firmeza do que estás habituado. Fui mais rude e dura no tom, levaste um açoite (lá se vai a parentalidade positiva) e pus-te de castigo.

Tu deves ter sentido que desta vez foi diferente e que me deixaste mesmo zangada [ainda não percebes que fiquei mais zangada comigo].

Não sei se por teres percebido que hoje fiquei mais zangada do que é costume, estavas a deixar levar-te pelo choro. Eu entrei em pânico mas não o quis demonstrar. Tentei acalmar-te mas sem querer transparecer-te que toda eu estava a tremer por dentro.

Tu choraste imenso, como acho que nunca te vi chorar. Soluçavas, sentido. E não o estavas a fazer pelo açoite, que de certeza que não te doeu nadinha. Choravas porque me viste mesmo zangada.

E eu Gonçalo... ao ver-te assim só me apetecia correr para ti, apertar-te, agarrar-te, dar-te beijos e chorar contigo. Mas não o fiz. Não o fiz por ti. Roí-me para não ir. Por mim tinha ido. Tinha-te agarrado nos meus braços e tinha-te apertado contra mim e ficava assim, a chorar contigo e a dizer-te que te amava muito. Mais que a mim mesma. Muito mais!

Mas não podia.

Um dia, quando tiveres filhos, talvez compreendas o que acabei de escrever.

Ser mãe não é fácil, sabes? Eu quero tanto, mas tanto que sejas feliz, que sejas uma pessoa íntegra, com princípios e com bons valores morais, que tenho de tentar educar-te em conformidade. E é por isso que não posso admitir certo tipo de comportamentos que andas a ter. Não posso.

Desejo muito daqui a uns anos olhar para trás e sentir que fiz um bom trabalho enquanto mãe.

Para já não é nada disso que vejo.

Para já tenho mil dúvidas, nenhumas certezas e um medo gigante de estar a fazer tudo mal. De não te estar a educar como deve de ser. De te estar a formar numa má pessoa ao invés de uma boa pessoa.

Nunca duvides do meu amor. Amo-te com todas as minhas forças... e independentemente de quando leres esta carta - se é que isso um dia vai acontecer - esta frase será sempre a maior das verdades absolutas!

6 comentários:

  1. Tem calma, eu tenho um puto de quase 16 meses anda naquela fase de fazer birrinhas porque quer isto ou não quer, quando está a comer começou a querer brinquedos no tabuleiro para depois atirar ao chão e a mãe a apanhar e eu disse-lhe acabou agora não há aqui nada ele tenta ver se mudo de ideias como vê que não cedo passa-lhe.

    Temos que ser firmes em qualquer idade, é por isso que a parentalidade positiva nem sempre dá, nem todas as crianças são iguais, e não fiques mal pelo açoite :)

    Pensa que eles passam por estas fases, e fizeste bem e certamente estás a educá-lo da melhor maneira, ele faz isto para chamar a tua atenção porque tem quer do lado dele, para ele a mãe tem que estar sempre ali :)

    Também grito, também dou açoites (leves é claro que não tem idade é só para ver quando se porta mal leva tau-tau :) )

    Calma, respira fundo, um abraço apertado nestas alturas é o que precisamos.

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  2. Oh mammy gira... Até me comoveu... Dói-nos tanto não é? Eu acho que o Gonçalo chorou por ficar triste de a ver triste, eles no fundo sabem que o nosso amor é para sempre e por terem essa certeza é que nos testam (mas que nos levam à loucura levam!!). Um beijinho em si, amanhã o dia será melhor e sim, fez o melhor por ele mesmo que tenha doído um bocadinho aos dois!
    Força mamã!
    Um dia ele vai ler esta carta com muito carinho e saber que teve a melhor mãe que podia ter tido!
    :) Vá dê um sorriso!

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  3. Oh, Sofia, como te compreendo! Ainda não escrevi nenhuma carta assim, mas não foi por não partilhar muitos desses pensamentos, sobretudo em relação ao meu filho mais novo (mas não só em relação a ele). Ser mãe (ou pai) não é mesmo nada fácil!

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