segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Será que o meu filho tem, ou vai ter, ansiedade de separação?

(texto escrito por Rita Castanheira Alves, Psicóloga Clínica Infantil e Juvenil)


A ansiedade de separação é uma característica que faz parte do desenvolvimento infantil e refere-se às preocupações da criança relativamente à perda dos pais e/ou das figuras de referência na sua vida. Enquanto característica de desenvolvimento adaptativa, porque ajuda a criança a proteger-se de estranhos e a pedir a aproximação dos pais ou das figuras de referência, tende a desaparecer.

Só que por vezes a ansiedade de separação que seria esperada torna-se excessiva e prejudicial na vida da criança. Nesses casos, pode-se estar perante uma Perturbação de Ansiedade de Separação.

A perturbação de ansiedade de separação pressupõe na sua essência uma ansiedade excessiva e prolongada relativamente à separação de casa ou daqueles a quem a criança está ligada.

E como sei que o meu filho pode ter uma perturbação de ansiedade de separação? Há sinais de alerta?

As crianças que estão a vivenciar esta perturbação podem exibir alguns dos seguintes sinais durante, pelo menos, 1 mês:

- Um mal-estar excessivo quando antecipam ou ocorre a separação de casa ou de figuras de maior vinculação;

- Preocupação excessiva pela possível perda das principais figuras de vinculação ou por possíveis males que possam acontecer a essas pessoas;

- Preocupação excessiva com a possibilidade de que um acontecimento adverso possa levar à separação de uma importante figura de vinculação;

- Resistência persistente ou recusa em ir à escola ou a outro local, por medo da separação;

- Uma resistência ou medo persistente e excessivo em estar em casa sozinho ou sem as principais figuras de vinculação ou, noutros locais, sem adultos significativos;

- Recusa em adormecer sem estar próximo de uma importante figura de apego ou em adormecer fora de casa;

- Pesadelos repetidos que envolvem o tema da separação;

- Queixas repetidas de sintomas físicos (como dores de cabeça, dores de estômago, náuseas, vómitos) quando ocorre ou se antecipa a separação em relação a figuras importantes a quem está muito ligado.

E que motivos leva a que a angústia de separação normativa se possa transformar em perturbação?

São diversos os motivos que estão na origem e na manutenção da perturbação da angústia de separação, entre eles:

- Grande instabilidade familiar;

- Dificuldades sérias e prolongadas de adaptação a novos contextos (como entrada no Jardim-de-Infância);

- Mudanças bruscas e excessivas na vida da criança;

- Ansiedade excessiva dos pais/cuidadores, criando contextos de desenvolvimento de superprotecção e menor autonomia para as crianças;

-  Permissividade excessiva e contextos de exigência excessiva de autonomia e de independência.

E há soluções? Como posso ajudar o meu filho?

Há. Em primeiro lugar respirar com a maior tranquilidade possível com a certeza de que há soluções:

- A diminuição da ansiedade por parte das figuras parentais e outras figuras significativas é essencial para que a própria criança se sinta segura e confiante;

 Transmita-lhe confiança, um contexto tranquilo, com rotinas e regras;

- Tente perceber o que poderá estar na origem da ansiedade de separação e o que a está a manter e procurar solucionar se assim for possível;

- Ajude a criança a sentir-se capaz de enfrentar o que teme e ajude-a a gerar estratégias para lidar com o que está a sentir;

- Mostre-lhe, gradualmente, que consegue ficar sozinha e que a mãe/pai irão sempre voltar para a buscar onde quer que ela esteja;

- Sempre que a deixar no Jardim-de-Infância ou outro lugar não desapareça de imediato, dê-lhe um beijinho ou um abraço de despedida, dizendo-lhe tranquilamente que voltará no final do dia;

- Os momentos que passarem juntos procure que sejam de tranquilidade, alegria e de atenção à criança;

- Lembre-se da sua própria ansiedade e de como é importante que a tente controlar;

- Se precisar de apoio não hesite em contactar um psicólogo infantil. Poderá ser essencial para que possa, da melhor forma possível, superar com o seu filho esta situação.

  
Rita Castanheira Alves
Psicóloga dos Miúdos
Psicologia Clínica Infantil e Juvenil e Aconselhamento Parental

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