segunda-feira, 10 de abril de 2017

CONSULTÓRIO: Como transformar o discurso negativo do seu filho

(texto escrito por Cátia Teixeira, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia)

Foto: Pinterest (upsocl)

“Sou mesmo burro” ou “Que estúpido que sou!”, são frases que costuma ouvir da boca do seu filho? Então leia este artigo, vamos ajudar.

Quando estas autoafirmações saem da boca dos filhos, a reação imediata dos pais costuma ser “não és nada”, numa tentativa de dar aos filhos segurança ou convencê-los de que o que dizem está errado.

Infelizmente, nestas situações, as palavras do seu filho são muitas vezes congruentes com aquilo que ele sente. Ele não se sente “adorável” ou “maravilhoso”, como os pais lhe tentam sugerir, mas sim “burro”, “estúpido” ou a “pior pessoa do mundo”.

A verdade é que tentar mudar as palavras dele não vai fazê-lo sentir-se diferente. Por isso, tente agir antes desta forma:

- Empatize – ponha-se no lugar do seu filho e tente compreender o que ele deve estar a sentir. “Esse trabalho está a ser muito difícil?” ou “Parece-me que te sentes frustrado”. Se não souber o que dizer, tente algo como “Queres um abraço?” ou “Isso é difícil”.

- Seja curioso – Algumas crianças têm dificuldade em verbalizar os problemas. Quando explora a situação com o seu filho, ele pode conseguir compreender o que realmente o está a incomodar. “Eu pergunto-me porque será que esse trabalho te está a aborrecer tanto hoje”.

- Ajude a reformular o discurso – Ao ter percebido o problema, ajude o seu filho a reformular as suas palavras. Em vez de “Escrever é difícil para mim, eu sou mesmo burro”, o seu filho pode dizer “Eu estou a trabalhar muito na escrita” ou “Errar faz parte da aprendizagem” ou até “Sinto-me tão frustrado com isto”.

- Trabalhem em conjunto – Resista à tentação de dar uma solução para o problema ou fazer aquilo que para si é o correto. Trabalhem em equipa. Pergunte ao seu filho o que ele poderá fazer para superar a dificuldade que está a sentir, mas lembre-se que a solução nem sempre é rápida ou fácil. Por vezes a resposta é mesmo “Tenho que continuar a tentar”.

- Desafiem os pensamentos e sentimentos – Os pensamentos e sentimentos vão e vêm, não definem ninguém. O facto de o seu filho sentir algo não significa que seja verdade. Relembre o seu filho de outras situações em que ele superou dificuldades, ou melhor, peça ao seu filho que lhe diga situações em que conseguiu superar as dificuldades.

Lembre-se que nem sempre é fácil aceitar comentários positivos quando está num turbilhão de pensamentos negativos (pense lá se consigo também não costuma ser assim). É como se estivesse a tentar ouvir uma música agradável numa rádio mal sintonizada. Não iria conseguir ouvir em condições e ainda ficava irritado com isso. É preciso sintonizar novamente, ou sintonizar numa outra frequência. Por isso, é natural que haja resistência da parte do seu filho quando o tenta fazer.

Lembre-se também que, acima de tudo, você é um modelo para o seu filho. Que verbalizações usa quando se sente frustrado?

Cátia Teixeira
Psicóloga Clínica

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