(texto escrito pela psicóloga Rita Castanheira Alves, da Psicóloga dos Miúdos)
Quando
nasce um irmão… o ciúme ataca…
O nascimento de um irmão significa a vinda de um novo
bebé e, consequentemente, a perda do posto de filho mais novo e único. Pode ser
um acontecimento difícil para algumas crianças ou adolescentes, os quais sentem
aquilo a que chamamos ciúmes.
O ciúme de um irmão é mais frequente nos filhos
únicos, especialmente nos que são também netos únicos e sobrinhos únicos. Desde
que a vida começou para eles, sempre foi assim: eram os mais pequenos, os
únicos, sem terem de dividir atenções, porque à volta só havia adultos. A vida
pode ser dura…
O ciúme é
normal… Há reacções que podem ser esperadas.…
O ciúme surge e é normal, especialmente associado ao
nascimento do irmão mais novo. É mais problemático e difícil de gerir, geralmente,
entre os três e os seis anos. Está associado a pensamentos difíceis de
compreender pela própria criança, relacionados com emoções complicadas de
expressar ou de controlar, como a frustração, a tristeza, a zanga e a
injustiça: «Os meus pais já não vão ter mais tempo para mim.» «Ele é bebé e,
por isso, é mais engraçado.» «Os meus pais vão gostar mais dele do que de mim.»
«Vão dar-me menos mimos porque têm de os dar ao meu irmão.»
São angústias da antecipação do que será a vida de
filho, partilhada com um irmão, que fazem parte do desenvolvimento e desta
mudança na vida,e que, por vezes, levam a consequências comportamentais
diversas: comportamentos negativos de chamada de atenção, comportamentos
regressivos típicos de idades mais precoces (os chichis na cama, voltar a pedir
chucha, querer andar ao colo, dormir com os pais…), necessidade de maior
dependência dos pais e mimo, reacções agressivas para com os pais e/ou irmão,
apatia e mudanças comportamentais na escola.
O ciúme é
normal mas deve ser «domesticado»
O ciúme cumpre uma função, é normal, não podemos
eliminá-lo, mas é possível ajudar os mais novos a controlarem-no, a
compreenderem-no, a fazer com que se manifeste em menos ocasiões e a
enfrentá-lo quando se sentem «atacados» pelo ciúme, em vez de se deixarem
dominar por completo.
Os pais podem ajudar o filho mais velho a lidar com o
ciúme do irmão mais novo, mesmo que este ainda esteja dentro da barriga da mãe
ou ainda não viva com a família (no caso de uma adopção).
É essencial uma boa dose de compreensão e paciência,
dando muito apoio e tempo para que se consiga habituar à nova realidade.
Com a ajuda dos pais, ultrapassar a fase de ciúmes
será um motor de desenvolvimento e de maturidade para um filho mais velho, que
sentirá que tem competências e é capaz.
No fundo, a adequada vivência do ciúme fraterno poderá
trazer novas e boas competências, ser apenas transitório e adaptativo e não ser
unicamente um prejuízo, difícil de lidar e que complica a dinâmica familiar. O
ciúme que se prolonga, se estende e continua a manifestar na adolescência
deverá ser tido em conta, merecer atenção, avaliando a auto-estima do
adolescente, percebendo por que razão continua a sentir um impacto tão grande
desse ciúme e como pode ser valorizado e ajudado a sentir-se confiante,
apreciado e não ameaçado pela existência de um irmão.
Tentações
de pais com filhos mais velhos com ciúmes de um irmão mais novo:
- Exigir-lhe muitos mais comportamentos e
atitudes adequados, por ser mais velho;
- Constantemente, dizer-lhe que tem e deve dar o
exemplo ao irmão, especialmente após algum comportamento negativo;
- Dizer-lhe que agora tudo mudou e todos têm menos
tempo;
- Comparar um com o outro, especialmente se o mais
velho está numa fase em que exibe comportamentos regressivos (mais infantis);
- Comparar sentimentos por um e outro;
- Passar a fazer tudo em família, todos juntos;
- Nunca falar sobre os ciúmes e desvalorizá-los;
- Dizer que é errado e feio ter ciúmes de um
irmão;
- Não fomentar a relação entre irmãos, com receio do
que o mais velho possa fazer ou como forma de evitar o ciúme;
- No caso de a mãe estar a amamentar ou
estar mais dedicada ao bebé mais novo, passar a ser o pai a fazer todas as
rotinas com o filho mais velho;
- No caso de filhos adolescentes, deduzir que não fará
sentido ter ciúmes e, por isso, desvalorizar;
- No caso de filhos adolescentes, deduzir que não
precisa de tempo especial só com os pais, sem o irmão mais novo;
- Dar sempre presentes ao mais velho, mesmo sendo dia
de aniversário do irmão mais novo;
- Dizer ao filho mais velho que foi o primeiro e que
vai sempre gostar mais dele do que do mais novo;
- Durante a gravidez, dizer que nada vai mudar e que
se manterá tudo igual;
Muito bom post
ResponderEliminar