terça-feira, 22 de dezembro de 2015

CONSULTÓRIO: Tenho ciúmes do meu irmão...

(texto escrito pela psicóloga Rita Castanheira Alves, da Psicóloga dos Miúdos)
Foto: Pinterest
Quando nasce um irmão… o ciúme ataca…
O nascimento de um irmão significa a vinda de um novo bebé e, consequentemente, a perda do posto de filho mais novo e único. Pode ser um acontecimento difícil para algumas crianças ou adolescentes, os quais sentem aquilo a que chamamos ciúmes.

O ciúme de um irmão é mais frequente nos filhos únicos, especialmente nos que são também netos únicos e sobrinhos únicos. Desde que a vida começou para eles, sempre foi assim: eram os mais pequenos, os únicos, sem terem de dividir atenções, porque à volta só havia adultos. A vida pode ser dura…

O ciúme é normal… Há reacções que podem ser esperadas.…
O ciúme surge e é normal, especialmente associado ao nascimento do irmão mais novo. É mais problemático e difícil de gerir, geralmente, entre os três e os seis anos. Está associado a pensamentos difíceis de compreender pela própria criança, relacionados com emoções complicadas de expressar ou de controlar, como a frustração, a tristeza, a zanga e a injustiça: «Os meus pais já não vão ter mais tempo para mim.» «Ele é bebé e, por isso, é mais engraçado.» «Os meus pais vão gostar mais dele do que de mim.» «Vão dar-me menos mimos porque têm de os dar ao meu irmão.» 

São angústias da antecipação do que será a vida de filho, partilhada com um irmão, que fazem parte do desenvolvimento e desta mudança na vida,e que, por vezes, levam a consequências comportamentais diversas: comportamentos negativos de chamada de atenção, comportamentos regressivos típicos de idades mais precoces (os chichis na cama, voltar a pedir chucha, querer andar ao colo, dormir com os pais…), necessidade de maior dependência dos pais e mimo, reacções agressivas para com os pais e/ou irmão, apatia e mudanças comportamentais na escola.

O ciúme é normal mas deve ser «domesticado»
O ciúme cumpre uma função, é normal, não podemos eliminá-lo, mas é possível ajudar os mais novos a controlarem-no, a compreenderem-no, a fazer com que se manifeste em menos ocasiões e a enfrentá-lo quando se sentem «atacados» pelo ciúme, em vez de se deixarem dominar por completo.

Os pais podem ajudar o filho mais velho a lidar com o ciúme do irmão mais novo, mesmo que este ainda esteja dentro da barriga da mãe ou ainda não viva com a família (no caso de uma adopção). 

É essencial uma boa dose de compreensão e paciência, dando muito apoio e tempo para que se consiga habituar à nova realidade.

Com a ajuda dos pais, ultrapassar a fase de ciúmes será um motor de desenvolvimento e de maturidade para um filho mais velho, que sentirá que tem competências e é capaz.

No fundo, a adequada vivência do ciúme fraterno poderá trazer novas e boas competências, ser apenas transitório e adaptativo e não ser unicamente um prejuízo, difícil de lidar e que complica a dinâmica familiar. O ciúme que se prolonga, se estende e continua a manifestar na adolescência deverá ser tido em conta, merecer atenção, avaliando a auto-estima do adolescente, percebendo por que razão continua a sentir um impacto tão grande desse ciúme e como pode ser valorizado e ajudado a sentir-se confiante, apreciado e não ameaçado pela existência de um irmão.

Tentações de pais com filhos mais velhos com ciúmes de um irmão mais novo:

- Exigir-lhe muitos mais comportamentos e atitudes adequados, por ser mais velho;

- Constantemente, dizer-lhe que tem e deve dar o exemplo ao irmão, especialmente após algum comportamento negativo;

- Dizer-lhe que agora tudo mudou e todos têm menos tempo;

- Comparar um com o outro, especialmente se o mais velho está numa fase em que exibe comportamentos regressivos (mais infantis);

- Comparar sentimentos por um e outro;

- Passar a fazer tudo em família, todos juntos;

- Nunca falar sobre os ciúmes e desvalorizá-los;

- Dizer que é errado e feio ter ciúmes de um irmão;

- Não fomentar a relação entre irmãos, com receio do que o mais velho possa fazer ou como forma de evitar o ciúme;

-  No caso de a mãe estar a amamentar ou estar mais dedicada ao bebé mais novo, passar a ser o pai a fazer todas as rotinas com o filho mais velho;

- No caso de filhos adolescentes, deduzir que não fará sentido ter ciúmes e, por isso, desvalorizar;

- No caso de filhos adolescentes, deduzir que não precisa de tempo especial só com os pais, sem o irmão mais novo;

- Dar sempre presentes ao mais velho, mesmo sendo dia de aniversário do irmão mais novo;

- Dizer ao filho mais velho que foi o primeiro e que vai sempre gostar mais dele do que do mais novo;

- Durante a gravidez, dizer que nada vai mudar e que se manterá tudo igual;
 -  Não dar qualquer carinho ou mimo ao mais novo na presença do mais velho.



Rita Castanheira Alves
Psicóloga dos Miúdos

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