terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

CONSULTÓRIO: "Ir atrás do choro"

(texto escrito pela pediatra Ariane Brand, da clínica Familiaritas)

Foto Pinterest
Há sempre, entre as nossas crianças, alguns artistas que conseguem deixar os seus pais em pânico, sustentando a respiração até ficarem roxos, eventualmente desmaiados ou mesmo sofrendo uma convulsão.

Este tipo de atitude deve ser distinguida da situação que ocorre na criança que desmaia, pálida, após um susto ou uma dor, não seguida de choro. Esta é chamada "reação vagal", ou seja, uma reação que envolve o sistema nervoso autónomo, involuntária, numa crianças sensível. Pode, inclusivamente, ocorrer no adulto, mas é igualmente benigna.

A crise típica que quero aqui abordar ocorre no contexto de uma zanga, frustração, birra, choro prolongado, em que a criança sustenta o ar durante a expiração, fica roxa, pode começar a perder a consciência e, eventualmente, ter uma convulsão auto-limitada e totalmente benigna. Todo este cenário limita-se a poucos segundos e a criança recupera a consciência sem qualquer tipo de sequelas. Durante a crise não precisa de qualquer ajuda e deve ser ignorada totalmente antes e depois da crise, para não criar um “artista de encenação”!

Durante a crise recomenda-se deitar a criança no chão, para esta não se aleijar, e, para os pais mais nervosos pode ajudar pôr um pano molhado e frio no rosto da criança (mas não há necessidade). Quando a criança recuperar deve mostrar indiferença, por muito que lhe custa, se não pode perpetuar e agravar o padrão.
A maioria destas crises ocorre entre os 1-3 anos de idade em rapazes e raparigas e há uma história familiar de crises idênticas de algum familiar em 25% dos casos. Aos 6 anos de idade estas crises já não são normais e devem ser vistos por um Neurologista pediatra.

O que fazer:

A resposta é simples: evite discussões desnecessárias e aplique regras e orientações firmes na educação do seu filho, que sejam previsíveis para a criança. Não necessita de qualquer estudo médico.

Como distinguir este tipo de "birra" de uma epilepsia?

1º No "Ir atrás do choro" há um fator desencadeante, enquanto que na epilepsia nem sempre.

2º No Primeira situação a criança chora sempre antes da convulsão e na epilepsia raramente.

3º Na crise epiléptica a criança apenas se torna roxa se a crise for prolongada. No "Ir atrás do choro" fica sempre roxa antes da crise.

4º O Electroencefalograma de uma criança com epilepsia costuma ser anormal, ao contrário do “artista birrento”!


Por isso caros pais: Calma e não alimentem esta atitude do vosso filho, por muito assustador que possa parecer. É uma forma de chantagem. Apenas o filho que desmaiou por susto ou dor, ou seja, o pálido e calado, pode merecer um colinho e uns mimos quando voltar a si.


Drª Ariane Brand, Pediatra, Familiaritas, Clinica Médica,Lda
FAMILIARITAS CLINICA MEDICA
Familiaritas.familiaritas@gmail.com

1 comentário:

  1. Gostei. Obrigada pela partilha. Tenho um birrento, mas não sustém a respiração (também já tem 5 anos, não era altura para começar a fazê-lo)!

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