quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os problemas de sono (Primeira Parte)

(Texto escrito pela pediatra Ariane Brand)

Foto retirada da internet

Devíamos pensar que dormir é algo fácil, natural. Mas, na verdade, tanto na infância como na idade adulta existem muitas pessoas com problemas de sono. Porque será? 

Dormir depende de fatores fisiológicos por um lado, e de hábitos adquiridos desde a tenra infância por outro. Curiosamente, este tipo de problemas existe apenas nos países desenvolvidos e são desconhecidos, ou não valorizados, no chamado terceiro mundo.

Entre nós, aproximadamente 20-30% das crianças sofrem de problemas de sono, nomeadamente de dificuldades em adormecer ou em acordar durante a noite.


Como será que surgem estes problemas?

Primeiro, vejamos a fisiologia do sono. Temos ciclos alternados de sono profundo (NREM) e de sono superficial (REM). Cada ciclo dura entre 50-60 minutos na criança pequena e 90 minutos no adulto. Os ciclos mais curtos de sono do bebé até aos 6 meses de idade, implicam mais ciclos de sono REM, ou seja, sono superficial, que parece ser uma proteção natural contra a morte súbita.

Na fase REM (Rapid Eye Movement, movimentos oculares rápidos) os nossos olhos movimentam-se rapidamente, podemos emitir sons, o nosso pulso e respiração tornam-se acelerados e sonhamos e acordamos frequentemente, apenas para adormecermos automaticamente de novo. Este breve intervalo de vigia servia ao homem em tempos remotos, tendo em conta o seu risco de vida permanente, para verificar se o ambiente se mantinha estável, sem alterações que poderiam significar algum perigo para ele, como a presença de algum animal selvagem, o ataque de uma tribo inimigo ou outros perigos.

Como a criança pequena tem mais ciclos REM, ela acorda mais facilmente durante a noite. Num latente em regime de aleitamento materno exclusivo, pode haver necessidade de refeições noturnas de 2 em 2 horas durante os primeiros meses de idade, visto que a digestão do leite materno é muito rápida e as reservas hepáticas de alimento muito reduzidos. Mas, após os 4-6 meses de idade, nenhuma criança necessita de refeições noturnas. Estas constituem apenas um mau hábito de todas as partes. 

Acontece mais frequentemente no primeiro filho, visto que muitos pais têm maiores dificuldades de se separarem do seu filho, especialmente durante a noite. Este tipo de pais têm tendência a levantarem-se para atender o filho mal a criança choraminga ou se mexe no berço, negando-lhe a possibilidade de aprender a voltar a adormecer sozinha.

Logicamente, passado pouco tempo, o bebé perdeu a sua capacidade inata de voltar a adormecer sozinho e precisa da ajuda oferecida dos pais em forma de leitinho, colinho, brincadeiras ou seja o que for. Se os pais tiverem azar e pouca imposição, está situação irá manter-se por muitos, muitos anos. Este é um dos erros clássicos que se cometem.

O segundo erro comete-se na hora do deitar.  
 
É muito importante que a criança seja colocada acordada na cama onde vai dormir, sem ajudas como o biberon, o colo, as festinhas ou algo semelhante. Recorde-se, a criança vai acordar durante a fase de sono superficial. Nesse instante vai “sondar” o meio que a rodeia. A criança que adormeceu sozinha, na sua caminha, vai encontrar o meio inalterado e pode voltar a adormecer, tranquila. A criança que adormeceu ao colo, com o biberon, na cama dos pais ou na presença de um adulto, os sistemas de alarme vão despertar, já que o meio se alterou. O ambiente pode parecer-lhe perigoso e a criança acorda completamente, assustada, chamando pela ajuda dos pais. Se estes lhe vão dar as mesmas "muletas", o biberon, o colo etc. ela adormece feliz, mas o mesmo cenário vai repetir-se na próxima fase REM, aproximadamente 2 horas depois.



Familiaritas Clínica Médica

DRª Ariane Brand 

Familiaritas.familiaritas@gmail.com


(Esteja atento à segunda parte deste artigo, que revelará alguns truques para ultrapassar estas situações, caso lhe sejam familiares. Também ensinará algumas receitas homeopáticas para os problemas de sono do bebé)

8 comentários:

  1. Com o meu Henrique, cometi esses erros... agora é um castigo conseguir que ele durma mais de 2h/2h30 seguidas... está constantemente a acordar. E quem sofre... é o mexilhão :\

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  2. Estas teorias são todas muito bonitas. Vamos deixar um bebé de meses a "acabar-se" em choro?! Tive noites complicadas, o meu pequeno agarrado à mama, chorei muito, mas também adorei essa fase e estou aqui inteira. Agora deixá-lo a chorar, sufocado? Não obrigada!

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    1. Estas teorias, defendidas por muitos pediatras, valem o que valem. Eu optei por seguir sempre a minha intuição e não me arrependo. Não o deixava chorar muito tempo porque me afligia. Hoje, o meu filho tem um sono muito agitado, mas não acredito que seja por causa disso.
      Beijinhos

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  3. Não gosto destas teorias. Como diz o pediatra Carlos Gonzalez, anormal é a criança que não mama à noite e que não dorme melhor agarrada à mãe.

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  4. Acho que temos também de seguir a nossa intuição, claro!

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  5. A solução é deixar o bebe chorar ? O meu quando deixo começa a chorar cada vez mais e depois é muito mais difícil para o adormecer se for lá logo em 5 minutos dorme. Se não ser leite fica duas horas a mexer se na cama assim que dou o leite cai para o lado a dormir. Essas teorias são muito bonitas mas é par quem não tem que viver com os bebes....

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    1. Foi o que respondi à Uba Anónimo. São muitos os pediatras que defendem estas teorias e eu respeito-as, mas cada criança é diferente e, por isso, não acredito que haja UMA solução milagrosa para uma situação em concreto. Defendo a intuição acima de tudo! beijinhos

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