Quem não conhece a
seguinte situação: A linda criança, que há pouco ainda parecia um anjinho, está
deitada no chão a chorar e espernear, o rosto vermelho, suado, os punhos
fechados, como se se tratasse do diabo em pessoa. Os pais, igualmente suados,
apenas desejavam que o chão se abrisse para os engolir a todos.
Pode se observar todo
o tipo de atitudes paternais. Há pais que ficam atónicos a olharem para o
filho. Outros prometem, pedem, chantageiam, gritam, batem e, por fim, a maioria
cede, desesperada e infeliz, à vontade da criança, que se cala de imediato.
Tudo isto sob o olhar
e os comentários críticos das testemunhas involuntárias.
As birras são mais fáceis de reconhecer do que definir, como
dizia o Pediatra Dr. Robert Needlman.
Todos nós conhecemos
as birras que se podem observar em todo o lado: na rua, no supermercado, em
casa e na consulta do médico. Estatisticamente, 50-80% das crianças, entre os 2-3 anos de idade, têm birras semanais,
20% diariamente. A maioria das
crianças resolve este problema até aos 5 anos de idade, mas 5 % continuam
durante toda a infância.
Não é um problema
genético, nem confinado a uma classe social,
mas pode acompanhar outros problemas de comportamento. Acompanha também problemas
de saúde como a hiperatividade, os problemas de audição, o autismo, lesões
cerebrais menores, sequela de partos difíceis, problemas respiratórios e de
sono, entre outros.
Crianças
temperamentais, com pouca possibilidade de se mexerem ao ar livre, são outro
grupo susceptível, assim como crianças vítimas de instabilidade e/ou violência
doméstica, dirigida contra eles próprios ou terceiros.
Porque que será que as crianças fazem “Birras”?
A criança pequena luta pela independência e autonomia
progressiva, mas a continuação da grande dependência dos pais provoca um
conflito difícil de controlar para a mesma.
A tensão emocional negativa, assim como a incapacidade de se exprimir
verbalmente, leva à frustração e, por fim, à perda completa de autocontrolo.
As birras fazem parte da fase do negativismo e dentro de
certos limites são uma etapa importante e normal da infância no caminho para a
idade adulta. Na criança mais velha, no entanto, pode ser uma estratégia
aprendida para manipular os pais com a finalidade de obter algo. Cuidado! Se a
criança pequena aprende que uma birra valente resulta num ganho de atenção da
parte da família e/ou se é recompensada com o objeto pretendido, ela não vai
abandonar esta estratégia eficaz. Pelo
contrário, encena o que inicialmente foi involuntário quando for mais crescida!
Como devemos reagir como pais? Como lidar com as birras?
As palavras-chave são: calma,
humor, rotinas e regras.
Pense: Em que
circunstâncias ocorrem as birras? O que provoca as birras? Não diga que “não”, a não ser que seja necessário.
Evite limitar a criança constantemente nas
suas experiências. Evite ter coisas que se possam partir, ou que sejam
proibidas, em casa. Depois de ter
pronunciado a palavra “não”, não pode recuar, por isso, pense se vale a pena.
Esta é a chave principal de toda a educação.
Dê escolhas simples.
Pergunte: “ Queres vestir antes a camisola vermelha ou a verde? Queres arroz ou
batatas? “ Deste modo dá-lhe a impressão de já ser grande e importante sem
qualquer esforço da sua parte.
Quanto ao local onde ocorrem as birras; se acontecer em
casa, ignore a birra totalmente,
afaste-se. Crianças mais velhas devem ir para o quarto. Diga-lhes calmamente:
“Vai para o teu quarto para te acalmares. Quando passar, podes sair.”- Deixe a
criança no quarto durante o tempo em minutos igual a idade: 5 anos igual a 5
minutos, por exemplo, o chamado “time out”. Depois, faça uma proposta
de paz. Se o seu filho aceitar, não se fala mais do assunto. Se continuar a
birra, fica mais uma temporada até se acalmar. Durante a birra não entre no
quarto, ignore tudo que se passa lá dentro, mesmo que lhe custe.
Horas mais tarde
podem tentar falar sobre o assunto.
Se for no supermercado ou no restaurante,
evite levar a criança para estes locais futuramente. Quando é inevitável levá-la
consigo, trabalhe com antecipação. Fale com a criança, explique que vai levá-la
consigo, faça-a prometer que não vai fazer uma birra e prometa-lhe algo
agradável em caso de se portar bem. Se fizer a birra, saia do local
rapidamente, ignorando a criança, dentro do possível, repetindo constantemente
a frase ”Acalma-te, acalma-te!”, sem outras explicações, promessas ou ameaças.
Ela não consegue ouvi-la naquele instante. Obviamente, não lhe dê o pretendido
por ela.
Esteja atenta. Na escola também faz birras ou acontece só
consigo, em casa? Se é este o caso, reveja o ambiente em casa e os seus
modos e métodos de educação. Há tempo para estar com a criança, horas de mimo?
Diga-lhe todos os dias que gosta dela, converse com ela. E as rotinas? Rotinas
e horários são imprescindíveis. As
refeições devem ser sempre à mesma hora, sentados à mesa, a criança deve dormir
horas suficientes, na cama dela e sozinha. Falta de sono pode aumentar a
tendência para birras, assim como a falta de regras e ordem, uma vez que estas
últimas dão estabilidade e segurança ao seu filho.
Pergunte-se
igualmente: Quantas vezes cede ao pedido da criança durante uma birra? Qual é a
sua postura durante o acontecimento? Nunca pode recompensar uma birra com aquilo
que a criança pretende, senão ensina-lhe a fazer birras para a manipular. Se sentir que está a perder o seu autocontrolo,
afaste-se. Não entre em escaladas de ofensas verbais ou físicas. Compreenda, você sofre, mas a criança
também, e está a pedir-lhe desesperadamente: Ampara-me.
Em caso de se sentir
demasiado desesperado com a situação, peça ajuda a um profissional, Pediatra,
Psicólogo ou Pedopsiquiatra, Médico de família experiente. Pode ser uma ajuda
preciosa.
Regras
para pais de crianças com birras:
1º-Dê
escolhas simples.
2º-
Antecipe as birras.
3º-Estabeleça
regras e rotinas sólidas.
4º-Durante
a birra mande a criança para o “time-out”,
ou tente ampará-la fisicamente. Evite
explicações na hora.
5º-Nunca
ceda a uma birra.
6º-Quando
a birra passou, restabeleça a paz.
7º-Tente
falar com a criança horas ou dias mais tarde sobre o
sucedido.
8º-Tenha
calma e humor!
Ariane Brand,
Pediatra
FAMILIARITAS-CLINICA
MÉDICA
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