segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

As “birras” - texto da Pediatra Ariane Brand


Quem não conhece a seguinte situação: A linda criança, que há pouco ainda parecia um anjinho, está deitada no chão a chorar e espernear, o rosto vermelho, suado, os punhos fechados, como se se tratasse do diabo em pessoa. Os pais, igualmente suados, apenas desejavam que o chão se abrisse para os engolir a todos.

Pode se observar todo o tipo de atitudes paternais. Há pais que ficam atónicos a olharem para o filho. Outros prometem, pedem, chantageiam, gritam, batem e, por fim, a maioria cede, desesperada e infeliz, à vontade da criança, que se cala de imediato.

Tudo isto sob o olhar e os comentários críticos das testemunhas involuntárias. 

As birras são mais fáceis de reconhecer do que definir, como dizia o Pediatra Dr. Robert Needlman.  

Todos nós conhecemos as birras que se podem observar em todo o lado: na rua, no supermercado, em casa e na consulta do médico. Estatisticamente, 50-80% das crianças, entre os 2-3 anos de idade, têm birras semanais, 20% diariamente. A maioria das crianças resolve este problema até aos 5 anos de idade, mas 5 % continuam durante toda a infância.

Não é um problema genético, nem confinado a uma classe social, mas pode acompanhar outros problemas de comportamento. Acompanha também problemas de saúde como a hiperatividade, os problemas de audição, o autismo, lesões cerebrais menores, sequela de partos difíceis, problemas respiratórios e de sono, entre outros.

Crianças temperamentais, com pouca possibilidade de se mexerem ao ar livre, são outro grupo susceptível, assim como crianças vítimas de instabilidade e/ou violência doméstica, dirigida contra eles próprios ou terceiros.

Porque que será que as crianças fazem “Birras”?

A criança pequena luta pela independência e autonomia progressiva, mas a continuação da grande dependência dos pais provoca um conflito difícil de controlar para a mesma. A tensão emocional negativa, assim como a incapacidade de se exprimir verbalmente, leva à frustração e, por fim, à perda completa de autocontrolo.

As birras fazem parte da fase do negativismo e dentro de certos limites são uma etapa importante e normal da infância no caminho para a idade adulta. Na criança mais velha, no entanto, pode ser uma estratégia aprendida para manipular os pais com a finalidade de obter algo. Cuidado! Se a criança pequena aprende que uma birra valente resulta num ganho de atenção da parte da família e/ou se é recompensada com o objeto pretendido, ela não vai abandonar esta estratégia eficaz. Pelo contrário, encena o que inicialmente foi involuntário quando for mais crescida!

Como devemos reagir como pais? Como lidar com as birras?

As palavras-chave são: calma, humor, rotinas e regras.
Pense: Em que circunstâncias ocorrem as birras? O que provoca as birras? Não diga que “não”, a não ser que seja necessário.
Evite limitar a criança constantemente nas suas experiências. Evite ter coisas que se possam partir, ou que sejam proibidas, em casa. Depois de ter pronunciado a palavra “não”, não pode recuar, por isso, pense se vale a pena. Esta é a chave principal de toda a educação.

Dê escolhas simples. Pergunte: “ Queres vestir antes a camisola vermelha ou a verde? Queres arroz ou batatas? “ Deste modo dá-lhe a impressão de já ser grande e importante sem qualquer esforço da sua parte. 

Quanto ao local onde ocorrem as birras; se acontecer em casa, ignore a birra totalmente, afaste-se. Crianças mais velhas devem ir para o quarto. Diga-lhes calmamente: “Vai para o teu quarto para te acalmares. Quando passar, podes sair.”- Deixe a criança no quarto durante o tempo em minutos igual a idade: 5 anos igual a 5 minutos, por exemplo, o chamado time out”. Depois, faça uma proposta de paz. Se o seu filho aceitar, não se fala mais do assunto. Se continuar a birra, fica mais uma temporada até se acalmar. Durante a birra não entre no quarto, ignore tudo que se passa lá dentro, mesmo que lhe custe.
Horas mais tarde podem tentar falar sobre o assunto. 

Se for no supermercado ou no restaurante, evite levar a criança para estes locais futuramente. Quando é inevitável levá-la consigo, trabalhe com antecipação. Fale com a criança, explique que vai levá-la consigo, faça-a prometer que não vai fazer uma birra e prometa-lhe algo agradável em caso de se portar bem. Se fizer a birra, saia do local rapidamente, ignorando a criança, dentro do possível, repetindo constantemente a frase ”Acalma-te, acalma-te!”, sem outras explicações, promessas ou ameaças. Ela não consegue ouvi-la naquele instante. Obviamente, não lhe dê o pretendido por ela.

Esteja atenta. Na escola também faz birras ou acontece só consigo, em casa? Se é este o caso, reveja o ambiente em casa e os seus modos e métodos de educação. Há tempo para estar com a criança, horas de mimo? Diga-lhe todos os dias que gosta dela, converse com ela. E as rotinas? Rotinas e horários são imprescindíveis. As refeições devem ser sempre à mesma hora, sentados à mesa, a criança deve dormir horas suficientes, na cama dela e sozinha. Falta de sono pode aumentar a tendência para birras, assim como a falta de regras e ordem, uma vez que estas últimas dão estabilidade e segurança ao seu filho.

Pergunte-se igualmente: Quantas vezes cede ao pedido da criança durante uma birra? Qual é a sua postura durante o acontecimento? Nunca pode recompensar uma birra com aquilo que a criança pretende, senão ensina-lhe a fazer birras para a manipular. Se sentir que está a perder o seu autocontrolo, afaste-se. Não entre em escaladas de ofensas verbais ou físicas. Compreenda, você sofre, mas a criança também, e está a pedir-lhe desesperadamente: Ampara-me.

Em caso de se sentir demasiado desesperado com a situação, peça ajuda a um profissional, Pediatra, Psicólogo ou Pedopsiquiatra, Médico de família experiente. Pode ser uma ajuda preciosa.      

Regras para pais de crianças com birras:

1º-Dê escolhas simples.

2º- Antecipe as birras.

3º-Estabeleça regras e rotinas sólidas.

4º-Durante a birra mande a criança para o “time-out”,
    ou tente ampará-la fisicamente. Evite explicações na hora.

5º-Nunca ceda a uma birra.

6º-Quando a birra passou, restabeleça a paz.

7º-Tente falar com a criança horas ou dias mais tarde sobre o
     sucedido.

8º-Tenha calma e humor!


Ariane Brand, Pediatra
FAMILIARITAS-CLINICA MÉDICA
219207526-968226005

familiaritas.familiaritas@gmail.com

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