quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O mês em que fui uma má mãe


Ilustração Jels Love
Sou stressada, sempre fui, por vezes um pouco complicada - como apontam os clichés femininos - mas passei a ser uma pessoa bastante mais pragmática desde que fui mãe. Como opto por canalizar as minhas forças e energias para e no meu filho, não tenho tempo nem paciência para as gastar em assuntos que, agora, considero secundários. Não obstante tudo isto, e como confessei logo no início, sou stressada. Por outro lado, nunca fui uma pessoa muito paciente e isso também não mudou com o nascimento do Gonçalo. Não me orgulho disto, nada mesmo, mas é um facto.

Recentemente vivi uma fase menos fácil na minha vida e há cerca de uma semana e meia tive um "baque". Uma espécie de momento de clarividência, no qual me dei conta que, no mês anterior (e muito por força do que estava a acontecer na minha vida; ainda que  o Gonçalo não tenha de "levar" com isso), andava particularmente impaciente com tudo, inclusivamente com ele. Eu andava triste, ansiosa e nervosa e, sem querer, estava a transmitir-lhe tudo isso. Através do tom que usava para falar com ele quando ele era teimoso, através do tempo que não lhe dedicava (até porque não conseguiria mesmo que o quisesse), através da minha falta de tato para lidar com ele...

Sem me aperceber andei quase um mês assim. Um dia, estava à noite sentada no sofá a trabalhar, quando de repente foi como se tivesse levado um estalo. Não sei explicar o que aconteceu porque não foi voluntário, mas constatei aquilo que devia ter constatado imediatamente quando tudo começou: que andava a ser uma péssima mãe.

Chorei (coisa frequente de acontecer nesse mês), fui ao quarto dele e fiquei minutos largos a olhar para ele e a dar-lhe festinhas enquanto ele dormia. Pedi-lhe desculpas por aquele mês e a prometi-lhe a ele, e a mim, que as coisas iriam mudar. Que eu iria estar mais disponível, que iria ser mais paciente, que iria ter em atenção o tom com que falava com ele mesmo quando ele fizesse asneira, que iria aproveitar melhor cada dia… Naquele momento senti que aquele mês foi quase como que "perdido" e jurei que nunca mais iria sentir aquilo.

É claro que sei que um ralhete quando eles se portam mal só faz bem. Não só faz parte, como é importante que aconteça caso haja razão para tal. Mas eu, e agora exagerando um bocado, andava de tal maneira zangada com a vida que a sensação que tenho é que espalhava esse sentimento à minha volta e, inevitavelmente, ele chegava ao meu filho.

Não acho que nunca mais vou errar enquanto mãe, e sei que uma semana e meia é pouco tempo, mas posso dizer-vos que desde esse dia mudei. Estou mais disponível, mais paciente, (a minha vida também mudou e isso também ajuda), respiro fundo mais vezes antes de ralhar (mesmo quando ele bem merecia), e tenho-me apercebido que, realmente, o meu comportamento tem uma influência gigante no comportamento dele. Não é coincidência achar que desde a minha mudança, também ele voltou a estar mais calmo. Continua traquina que dói, mas isso é normal :)

Confesso que quando prometi ao Gonçalo, e a mim mesma, que ia mudar, parte de mim duvidou que conseguisse. Mas mudei. Sei que uma semana e meia é pouco tempo, mas é o suficiente para eu saber que consigo mudar se o quiser e me esforçar para isso. O mal, muitas vezes, é levarmos a vida em modo cruzeiro, ou melhor dizendo, deixarmos que seja a vida a levar-nos.

Nesta semana e meia sinto-me muito mais feliz, sobretudo, e acima de tudo, porque sinto que o meu pequenino também o está.

18 comentários:

  1. Eu gostava mto de seguir essa sua nova maneira de seguir a viva mas não é possível para mim pois como recentemente me foi dito"até para a assistência a família tem um limite de dias" ora eu com 2 bebes (2anos e 7meses) infelizmente ou um ou outro ficam doentes e la vou eu para a clínica e tenho que faltar ou trabalho agora ao que parece ou se é mãe ou se trabalha é claro que ando nervosa e triste e sim a sinto-me má mãe eu sei que tenho tido pouca paciência e isso reflecte-se nos meus filhos. Choro enquanto escrevo porque sei que para o meu dilema não a solução a vista.

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    1. Fico tão triste por ler isto. Porque sei bem que se eu mudei, também foi porque a minha vida mudou. Se andasse com o mesmo ritmo seria impossível. Não sei o que lhe diga :(… Acredite que gostava de ter palavras e soluções mágicas para lhe dar, mas sinto que tudo o que lhe possa dizer poderá soar a "é fácil falar".
      Tente, se conseguir (era o que eu tentava), compensá-los aos fds. Sei que é pouco, mas este é o país que temos. Um país que anda contribuir para que os filhos nasçam sem o acompanhamento devido dos pais :( Por outro lado, tem de acreditar que isto é uma fase e que vai passar. Eles vão crescendo e ficando mais imunes… e tem sempre dois lados onde se agarrar: aos dois filhos que tem e que, estou certa, ama imenso e lhe dão imensos motivos para sorrir <3 Força! Muita força! Do fundo do coração é o que lhe desejo. Mesmo não a conhecendo, mesmo não sabendo o seu nome. <3

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  2. Exato: é uma fase menos boa, que vai passar. Claro que perguntamos: QUANDO??? Há dias muito complicados quando temos filhos próximos , doentes e afins. Depois vem o esgotamento, o não dormir, a falta de vontade e de forças. Eu cheguei a culpar mutas vezes o meu mais novo, de tudo. Da minha vida insipida e estafante. Força, há sempre motivos para lutar e resistir às dificuldades. Nota: eu acabei por me divorciar, mas agora só melhor Mãe e uma nova pessoa. E o Pai também. Acho que os filhos ganharem. Bj grande para as 2 Super Mães.

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    1. Olá Catarina. Que bom que as coisas agora estão melhores. Acredito que um divórcio seja sempre stressante, independentemente de ser ou não litigioso, mas acredito também que se o amor acaba, mais vale passar pelo stress e fazer disso uma fase, do que o prolongar no tempo e alastrar aquilo que poderia ser só uma fase. Para bem dos pais e, claro, dos filhos :) De resto, e quanto ao ser "má mãe", eu não tenho ilusões. Como disse no texto, não acho que nunca mais vou errar, mas estou a fazer um esforço para estar mais consciente dos meus atos e daquilo que o meu filho significa para mim: TUDO! E depois, claro, é tentar ser coerente com este sentimento.
      Beijinhos gds e obgda pela partilha

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  3. Chorei quando li o que escreveu. Também já fiz exactamente o mesmo...ir à cama dele de noite e pedir desculpa com ele a dormir. Nós não somos máquinas mas somo mães...

    http://osmeusosteusosnossos.blogs.sapo.pt/

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    1. ;( Ohhh. Mas eu não queria fazer ninguém chorar. Mas é como diz, por mais que por vezes teimemos em não aceitar isso, a verdade é que somos "apenas" seres humanos e não seres omnipotentes e omnipresentes <3 beijinhos

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  4. Acontece-me o mesmo, dias menos fáceis. Mas felizmente, e mais ainda desde o workshop com a Magda Dias, tenho conseguido mudar. :)

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    1. :) Eu acho realmente que sim. Que se consegue. No meu caso, tenho de confessar que para além da minha enorme vontade em que isso acontecesse, também coincidiu com uma mudança positiva na minha vida. Nunca saberei se teria conseguido mudar a minha atitude se não tivesse havido também esta mudança. Beijinhos

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  5. Já me aconteceu tantas vezes...
    Custa muito. Mas passa.
    Beijinhos e força.

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  6. Gostei muito do q escreveu....é bom cairmos em nós, arrependermo-nos e mudar. tb já me aconteceu fases em que sistemáticamente perdia a cabeça com os meus filhos, e ficava tão triste depois...mas quando realizamos e fazemos o esforço de ser mais pacientes, de não levantar a voz, de não nos passarmos com coisas pequenas, conseguimos mudar mesmo. E eles correspondem! Porque também ficam mais calmos.

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    1. Acho que acontece a todos e, sinceramente, custa-me muito acreditar que haja pais que nunca tenham levantado a voz ou tido um comportamento mais "agressivo" (e não estou a falar de agressividade física, obviamente) para com o seu filho. Ainda bem que gostou :) Deixa-me muito feliz! beijinhos

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  7. Precisava muito de ler algo como o que escreveu!! Muito mesmo. Obrigada :) Espero conseguir ter sucesso, nem que seja por uma semana e meia!!

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    1. É tão bom sentir que o que escrevi ajudou alguém de algum modo. Nem imagina Maria João. Este foi o principal motivo que me levou a começar este blog. A necessidade que tive de partilhar este tipo de sentimentos, vividos por quase todas as mães, mas muito pouco partilhados. Se houvesse mais este tipo de partilha, decerto que as mamãs teriam menos "sentimentos de culpa". É óbvio que neste caso eu tinha mesmo que sentir-me culpada, mas, e não me querendo desculpar com isto, em Portugal não facilitam em nada a vida às mães. Nunca o fizeram e agora com esta crise pior as coisas estão. As preocupações monetários, o excesso de trabalho ou a falta dele, são motivos mais que suficientes para deixar qualquer mãe (e pai) stressada e à beira de um ataque de nervos. E se há dias que nos conseguimos acalmar e "separar as águas", há outros em que as coisas não são assim tão fáceis!
      No meu caso, já lá vão duas semanas. Se nestas duas semanas nunca ralhei com ele? Claro que sim! A questão é como o fiz. Com um tom civilizado e educativo. Se acredito que vai ser sempre assim. Não. Mas que pretendo estar muito atenta para não voltar a deixar que uma coisa destas aconteça, e por tanto tempo, lá isso pretendo. beijinhos e claro que vai conseguir ;)

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  8. Sim, há alguns meses, também passei por isso, e foi muito complicado. De um dia para o outro, fiquei desempregada, com 2 casas para pagar e o meu marido estando longe de mim durante a semana... Entrei em pânico, stressei mesmo a fundo, e a minha piolhinha ressentiu-se, tanto a nível emocional (parecia ter medo de mim, quase) tanto a nível comportamental, andava mais teimosa, etc e tal. Tive uma revelação dessas, e pensei cá para mim: esta situação desagradável não é mais que uma oportunidade de mudar a minha vida de rumo, e ninguém tem culpa, muito menos a minha piquena... Demorei um pouco mais de uma semana e meia a conseguir algo concreto, mas acabei por atingir o objetivo. Resultado, acalmei os meus ânimos e desânimos, esforcei-me a ter mais paciência, a ser mais flexível (sim ao início não foi fácil, mas aos poucos deixou de ser um esforço e passou a ser natural), bastou muita (muita mesmo) força de vontade e consegui, melhor, tenho conseguido. Tem sido uma constante. Entretanto, arranjei trabalho, mas tento aproveitar ao máximo esta sensação de paz que adquiri ao longo dos últimos meses, e aproveitar cada segundo que tenho com a minha filhota. Continua teimosa, e de vez em quando, leva um ralhete, mas sinto-me feliz e muito orgulhosa de mim mesma, de me conseguir controlar melhor no meu mau feitio (ou stresses diários) e não descarregar em cima dela, explicando as coisas calmamente, e sobretudo, sendo sincera, com ela, e comigo própria: hoje estou cansada, hoje passei o dia todo a correr e o trânsito estava caótico, o que me atrasou ainda mais, ou isto ou aquilo, mas agora estou em casa, aquilo que aconteceu, no passado ficou, e por trás da porta da rua permanece, não entra em casa! Vamos tomar banhoca, vamos brincar as 2, vamos jantar, vamos dar miminhos, afinal, como dizia a Scarlett O'Hara, "tomorrow is another day"... Neste caso, começa no próprio dia ou no próprio momento em que volto para casa e sou acolhida com um sorriso rasgado e muitas traquinices à mistura! Por isso só, vale a pena! Mesmo! Boa sorte, e tenham fé em vocês próprias, sobretudo nos momentos de maior desalento (difícil, eu sei, mas não impossível), pois ninguém melhor do que nós mães, para mudarmos as nossas forças interiores e darmos a volta por cima...Afinal, somos mães, não máquinas nem super heroínas que não podem errar. Errar é sempre possível, errar é humano, mas aprendemos com os nossos erros, para sempre nos recriarmos, corrigirmos esses erros e não voltar a cometê-los. Força! Nicole

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    1. Caramba… na sua situação, e pelo menos ali na fase inicial, quem não entraria em pânico? Só quem tivesse sangue de barata ou estivesse sob efeitos de xanax!
      Realmente, o ser humano é engraçado. Muitas vezes é nas situações mais limite que descobrimos a nossa veia de sobreviventes. De lutadores. Que descobrimos a nossa verdadeira força. Foi o que lhe aconteceu, pelos vistos. Tinha duas hipóteses: entregar-se a essa infeliz situação (e não resolvia nada com isso) ou interiorizava essa postura que adotou. (e muitos parabéns por isso! ;))
      Essa paz de que fala, também a sinto desde que consegui mudar a minha atitude. Sinto-me muito melhor mãe e isso dá-me paz de espírito! Como disse em respostas anteriores, nestas duas semanas já me zanguei com o meu filho (se ele faz asneira, não vou ser boa mãe se deixar passar), mas zango-me com "modos".
      E que bom que entretanto conseguiu emprego. Quem sabe se não foi essa sua energia positiva que atraiu? E adorei essa visão de que amanhã é um outro dia e que esse dia começa no próprio dia, naquele momento em que chega a casa. Adorei mesmo!
      Agradeço-lhe muito a partilha <3 beijinhos e continue assim!

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  9. Gostei muito do que escreveu... obrigada! :)

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