terça-feira, 7 de maio de 2013

Coisas de uma desempregada: a análise


Se quando coloquei este post o fiz para partilhar uma sensação que me parece cada vez mais comum nos dias de hoje, e não tanto por ter pensado muito no assunto, os comentários e feedback que tive fez com que racionalizasse ainda mais o que se passou. Levou-me a analisar melhor o que senti e posso adiantar que não gostei muito de algumas das minhas conclusões!

Enquanto ouvia as mães a proferirem palavras de preocupação por estarem atrasadas para o emprego, senti-me frustrada, triste, com uma certa inveja (não da má), inútil e envergonhada. Talvez outras coisas mais, mas estes foram aqueles sentimentos mais dominantes.

Em relação aos três primeiros, até acho normal, mas os outros dois não estão certos. Não deviam encaixar nesta equação. No entanto, tenho a certeza que são partilhados por muitos desempregados que, como eu, estão nesta situação involuntariamente, querem muito arranjar emprego e esforçam-se por o conseguirem. 

Sentir os outros dois sentimentos, seja em que circunstância for, está errado! Sentir isto está totalmente errado!

Na minha "auto-análise", percebi que me senti inútil por não poder contribuir para a sociedade ativamente. Mas se for exata, a verdade é que não sou eu quem não o quer fazer. A sociedade é que, pelos vistos, não tem lugar para mim. Quanto ao "envergonhada", se pensar bem, quem tem muito com que se envergonhar são os governantes deste país. Os de agora e tantos outros que por lá passaram desde 74.

Sim, decididamente, vergonha era o que eu sentiria se me predispusesse a governar um país, mas depois não conseguisse oferecer emprego a quem vive nele. Se eu contribuísse para um decrescer brutal da qualidade e nível de vida da população, em nome de uma dívida que tem de ser paga custe o que custar, e levasse à frente quem tivesse de ser levado (desde que não seja nenhum amiguinho político ou pessoal). Se eu cortasse verbas em pilares básicos de uma sociedade dita civilizada e evoluída, como o são a saúde e a educação. Se retirasse privilégios a reformados que mal têm para comer. Se eu fosse a causa para tantos pais estarem a ver os filhos partir e tantos filhos se verem obrigados a ir para longe dos pais... 

Sim. Se fosse este o caso, é que eu realmente teria motivo para sentir vergonha! Muita vergonha! Mas isso sou eu!

Curiosamente, parece que quem devia ter vergonha na cara nem sabe o que isso é. Ao contrário do povo, que dorme mal e preocupado com as contas e com o seu futuro e o dos seus filhos, os responsáveis por tudo o que está a acontecer devem  dormir serenamente, nos seus colchões e almofadas caríssimos e altamente confortáveis, para acordarem frescos e poderem vir dizer ao Zézinho que o que estão a fazer é para o bem do país e que a redução da dívida está a ser um sucesso. 

Sabem o que vos digo? O Bordalo Pinheiro é que a sabia toda!

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