quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Onde é que vai chegar o jornalismo em Portugal?


Aqui está o Gonçalo a "ler" a Automotor e fascinado com a foto do BMW que está a ver (mais uma influência do pai). Mas não se deixem enganar pela foto. Não vou falar de coisas fofas nem de feitos do meu "bambino". Vou falar de uma situação que me entristece e preocupa e que está a acontecer aos olhos de todos. Dado o panorama atual, o que está a acontecer até poderá parecer uma banalidade, mas na verdade é muito mais grave do que possa parecer a uma primeira vista.

A Automotor que o meu filho está a ver, assim como as revista Volante, Autosport e Casa Cláudia, só para dar quatro exemplos, vão fechar. A isto, junta-se o facto de que já todos devem ter ouvido: o Jornal Público e a Agência Lusa vão ver reduzidos, drasticamente, os jornalistas nas suas redações. E eu pergunto: o que é que estão a fazer ao jornalismo neste país? Até onde é que é suposto as coisas chegarem?

É verdade que quando acabei o curso de comunicação social, em 2002, já havia precariedade no setor, uma dose considerável de desemprego, etc. Mas não me lembro das coisas terem chegado a um ponto tão preocupante. E atenção, esta preocupação sinto-a como cidadã e não como ex-jornalista (já não exerço há três anos).

Eu leio o Público online todos os dias, porque é um meio que eu gosto, porque admiro os profissionais que lá trabalham, acredito que eles cumprem muito bem o seu papel. Informam e prestam um serviço público; sem querer fazer trocadilhos baratos com o nome. Ora, se vão despedir grande parte dos jornalistas mais antigos (36, estamos a falar de 36 jornalistas!!), e por melhores que sejam os profissionais que lá vão ficar, basta fazer as contas. A qualidade NUNCA poderá ser a mesma.

O grave disto tudo é que por mais interesses comerciais e económicos que existam por detrás dos grupos que detêm os meios de comunicação social (sempre houve), mal ou bem o jornalismo AINDA é um dos símbolos máximos da democracia. Com estes cortes sucessivos nas redações, cortes estes que têm a sombra da crise a ampará-los, iremos, inevitavelmente, ver este símbolo comprometido e corrompido.

Eu gostava de ver como seria se todos os meios resolvessem fazer o que a Lusa está a fazer até domingo: Greve. Se todos, mesmo todos, os meios de comunicação fizessem greve, por um dia que fosse, uma manhã que fosse, nem quero pensar onde as coisas iriam. No limite, seria ver o Governo meter ainda mais os pés pelas mãos durante esse tempo, para aproveitar o silêncio informativo. Porque não nos enganemos, a comunicação social pode não conseguir impedir que os incompetentes dos governos e partidos façam asneiras, mas não duvidemos que essas asneiras só não vão mais longe porque a comunicação social existe. Porque, usando os galardões da democracia, da isenção, da liberdade de expressão, a comunicação social expõe aquilo que eles preferiam que ficasse debaixo do tapete.

Sim, preocupo-me. Porque não sei quando é que os cortes vão acabar, onde é que isto vai parar e o mau jornalismo não é jornalismo. E é a este ponto que as coisas vão chegar. A um mau jornalismo.Tendo em conta que grande parte das redações já exerce a profissão quase sem sair da secretária, porque não há dinheiro para ir para a rua fazer trabalho de campo, podemos imaginar como será daqui para a frente, a juntar isto a redações reduzidas até ao tutano.

Hoje não me sinto minimamente inspirada. Gostava de fazer um texto mais certinho, composto e organizado, porque este tema diz-me e toca-me muito, mas hoje não consigo. Por outro lado, e como impulsiva que sou, tenho necessidade de pôr cá para fora o que sinto hoje. Não sei se consegui transmitir o que me vai cá dentro... a verdade é que este país anda a cansar-me!

Viva a democracia! Onde quer que ela esteja!

2 comentários:

  1. Sou jornalista e temo o meu futuro, a minha vida.

    Dá-me vontade de chorar!

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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    1. Não sei o que dizer... realmente as coisas estão a apontar para um rumo muito triste e preocupante, mas não podemos fazer mais do que reagir. Diz isto quem, no prx mês, vai ficar sem emprego! :( Força. E gostei do seu blog :)

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