quinta-feira, 27 de julho de 2017

CONSULTÓRIO: «Um por todos e todos por um» - Relação entre irmãos

(texto escrito Ana Oliveira, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia)
Foto: Pinterest
É um dos melhores presentes (senão mesmo o melhor!) que se pode dar a um filho.

É um gadget mega versátil, que não precisa de upgrade, pois nenhuma versão seguinte o vai o ultrapassar.

É um pack ilimitado de brincadeiras, interações, de gestão de emoções, de exploração de si mesmo e do mundo.

Os irmãos derretem-se no abraço um do outro e degladiam-se pela conquista de espaço, tempo e valorização.

Tudo acontece num minuto e tudo desaparece no seguinte.

Uma delícia louca de assistir e, em simultâneo, um caos que se procura orientar.

Fazem-se os primeiros ensaios de relação com os pares em casa, na «batalha» do dia-a-dia por um brinquedo, atenção, mimo, protagonismo… coisas de irmãos!

As interações que se desenvolvem no seio familiar refletem padrões transacionais que se repetem no tempo e são sequências que vão regulando os afetos, os comportamentos e aquilo que cada elemento pensa sobre si, sobre o outro e o seu papel.

Cada família vai desenvolvendo o seu modelo de relações e daí a minha paixão pelo trabalho com famílias e a sua complexidade.

É esta complexidade estimulante que Minuchin (1979) descreveu como «rede invisível de necessidades funcionais, que organiza o modo como os membros da família interagem», que vamos dando substracto para gerar os nossos filhos.

De entre os vários subsistemas que compõe a família (individual, conjugal, parental e fraternal), o subsistema fraternal, é aquele que é constituído pelos irmãos e que representa precisamente esse terreno fértil de experimentação de papéis sociais face ao mundo exterior à família (escola, trabalho,etc).

É neste subsistema que as crianças desenvolvem as suas capacidades com o grupo de iguais e desenvolvem capacidades de inter-ajuda, competição, solidariedade, resolução de conflitos, afirmação de convicções, argumentação, que desenvolvem o próprio saber brincar.

A interação entre irmãos é, pois, uma máquina poderosa de produção de memórias que gravam e acompanham uma vida.

A última frase carrega por si só o peso de uma interação que se quer saudável e mais igualitária, na qual os pais devem ter um papel fundamental de equilíbrio e regulação, evitando preferências e sobrevalorizações unidirecionais. Apela-se a um lado justo e imparcial mesmo tratando-se dos próprios filhos. Permitam que os seus filhos resolvam as suas próprias questões, arbitrando aqui e ali quando necessário.

Entretanto é “permitido” aos pais que tenham mais identificação com um dos filhos do que com o outro, por caraterísticas de personalidade mais próximas, afinidades com percurso desenvolvimental ou mesmo de semelhança de traços físicos. É permitido, mas sem alianças que criem nichos de uns contra os outros.

Os irmãos são compinchas que saem na rifa da vida e que se leva para sempre num sem fim de momentos: choros, risos, segredos, lutas, escaladas, mas que permitem ligações duradouras de pertença «Um por todos e todos por um».

Quem não tem esta ligação de sangue com um irmão, pode sempre consegui-lo nalguns felizes acasos que a vida nos proporciona e liga a certas pessoas que se tornam como irmãos e se grudam em nós para a Vida.

Ana Oliveira
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar/casal – Oficina de Psicologia

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