No próximo sábado, dia 25 de abril, a Rita Castanheira Alves, psicóloga e parceira aqui no blog, vai apresentar o seu novo livro na Fnac do Vasco da Gama, às 18h30.
Trata-se de um livro muito prático, que serve de guia para a parentalidade e que conta com exercícios fáceis de aplicar no dia a dia, dicas, informações e histórias de leitura fácil.
Para perceberem melhor de que tipo de livro estamos a falar, fiquem com um cheirinho do que poderão encontrar nas suas páginas:
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Parte III – Assuntos Chatos
Texto e dicas retirados do Capítulo 4.
Um Irmão é para sempre – Podemos
devolvê-lo?
A Júlia das Birras
Júlia,
pára!
Júlia,
não faças isso!
Júlia,
está quieta!
Júlia,
outra vez!
Júlia,
parece que és tu a mais nova…
A Júlia tem quatro anos. Uns quatro anos maduros.
Maduros? Sim, maduros. Quero dizer… crescidos. É observadora e indaga tudo o
que a rodeia, com os olhos redondos que nem bolas de bilhar. De nariz empinado,
olha para um lado, olha para o outro, sempre curiosa e em jeito de descoberta.
Resolve problemas sozinha, como pedir as braçadeiras quando vai para a piscina,
vestir o vestido da praia e arrumar os livros por ordem. Costuma responder
quando lhe fazem perguntas, mesmo que a resposta seja: «Não sei.» É uma Júlia Madura
para a idade que tem, costuma ouvir.
De há seis meses para cá, a Júlia e a família
mudaram de casa, para uma casa maior, numa cidade diferente. O pai foi
convidado para ir trabalhar para um sítio de que ele gosta muito. A Júlia acha
mesmo que é o sítio preferido do pai, porque «fica lá taaaaaantoooo diaaaa»,
costuma dizer a Júlia, enquanto abre os olhos, para explicar o tanto. A casa
mudou de sítio por causa do trabalho do pai e tornou-se maior porque, há quatro
meses, nasceu o irmão mais novo da Júlia, o Faustino, que «está sempre no colo
da mãe, pois não se sabe sentar sozinho».
Foram os quatro, o pai do novo trabalho, que o faz
estar sempre ao computador, a escrever palavras, o mano pequeno da Júlia, o
Faustino, a mãe que o leva sempre ao colo e, claro, a Júlia dos olhos redondos
que nem bolas de bilhar.
E a tartaruga Xica? Sim, claro. E a tartaruga Xica,
com quem a Júlia conversa e bebe chá.
Há quatro meses também a Júlia arranjou um novo
trabalho… Dar trabalho. Dar trabalho? Uma rapariga tão madura? Há quatro meses,
o novo trabalho da Júlia é… dar trabalho. Suspiram os pais entre um telefonema,
a reunião do pai no trabalho e as cólicas do Faustino.
Mas, afinal, o que é dar trabalho? Dar trabalho,
para os pais, é fazer birras, é fazer asneiras e disparates. E, depois,
ouvirmos ralhetes dos pais.
Um dia, uma birra, outro dia, um disparate, no
seguinte, uma asneirola e, à noite, mais uma birra.
A Júlia Madura passou a ser a Júlia Birrenta. Que
grande chatice. Parece que, com tanta mudança, a Júlia também mudou.
E a Júlia rapidamente se tornou a Júlia Birrenta.
As asneiras e as birras não paravam de atacar, pareciam quase mais fortes do que
a Júlia. Não podia ser. Ela era tão forte, alguma coisa se passava.
Foram quatro meses de «taaannntas» birras no
restaurante, de disparates no supermercado, de fúria com a mãe, de coisas feias
que a Júlia não conseguia deixar de dizer, de lágrimas e de dificuldade em
cumprir regras que antes pareciam tão fáceis.
Os pais não percebiam e o trabalho novo, as
reuniões, as tarefas de casa, a nova casa, a cidade nova, o novo bebé e a vida
tão ocupada não os deixava perceber. Afinal, o que se passava com a Júlia? De
Madura a Birrenta, em apenas quatro meses?
Um dia, os pais, cansados, ficaram em casa a
descansar. Um dia sem o pai ir trabalhar, sem sequer olhar para o computador.
Acordaram a Júlia e houve miminhos e cócegas na cama dos pais: «Iupiii!», dizia
a Júlia, enquanto ria e rebolava na cama dos pais. Tomaram um pequeno-almoço
bem grande e, com muita conversa, enquanto os pais arrumavam a cozinha, a Júlia
ficou a entreter o mano no berço, cantando canções, enquanto a mãe lhe ia
dizendo: «Baixinho Júlia, tens uma voz linda. Canta baixinho, o mano está a
gostar.» A Júlia esforçava-se por cantar baixinho e por não se enganar nas
letras.
Primeiro foram levar o Faustino a casa dos avós e depois
os pais foram, juntos, levar a Júlia à escola. E às três horas da tarde foram
buscá-la. A Júlia não podia acreditar. O pai e a mãe, juntos e ser a primeira a
sair da escola, ainda com tanto sol. Correu para o abraço dos pais e saltou com
um sorriso «graaannddeee». Chegaram a casa e brincaram no tapete, como a Júlia
gostava, a tomar chá com a tartaruga Xica. Porém, desta vez, tinham convidados
para o chá: os pais. E sem computadores, telefonemas ou pressas! Nesse dia, a
mãe tinha preparado leitinho em biberãos e o Faustino ficou a jantar na casa
dos avós. Por volta das 19h30, uma banhoca, como a Júlia gostava. Lá ía ela,
pelo corredor fora, às cavalitas do pai. No banho, a espuma servia para fazer
penteados: «Fecha os olhos, pai, fecha. Agora abre! Tcharan, o meu penteado!»
Jantaram e, à noite, houve até tempo para uma história
e para ouvir música calminha. A Júlia adormeceu, depois do beijinho da mãe e do
beijinho do pai, com um sorriso maduro. Com o sorriso da Júlia Madura.
Nesse dia, a Júlia Madura explicou
aos pais, sem explicar, que precisava de tempo, de pais e de mimos… Ensinou-lhes
que é preciso parar, é preciso estar, sempre que possível, nem que seja um
bocadinho, especialmente quando as coisas mudam. Mesmo que mudem para melhor.
Em caso de irmãos...
Os
pais podem ajudar no desenvolvimento equilibrado da relação entre os irmãos,
promovendo oportunidades para que possam construir a coesão da relação
fraterna, proporcionando que os filhos criem uma relação única, só deles, que
será de extrema protecção para o resto da vida e nas diferentes fases.
-
Tenha sempre
presente que, apesar de irmãos, são pessoas individuais e únicas, pelo que
poderão ser muito diferentes, não havendo um melhor do que o outro ou um que
deve seguir o outro;
-
Conheça bem as
diferenças entre os seus filhos, enaltecendo os pontos positivos de cada um,
garantindo que todos se sentem bem e orgulhosos das suas características e
admiram também as características do outro;
-
Apesar de ter um
filho que refila mais ou tem piores comportamentos, não deixe de estar atento
ao mais sossegado. Nem sempre as crianças ou os adolescentes muito quietos e
com comportamentos correctos são os mais saudáveis;
-
Promova momentos
de qualidade e únicos com cada um dos seus filhos, dedicando-se, nesses
momentos, ao que ele precisa e gosta;
-
Não faça
comparações. Sei que é difícil e quase automático, mas deve evitar as
comparações entre irmãos;
-
Encontre tarefas
em casa em que os ponha a colaborar entre si, desenvolvendo a coesão e a união
entre ambos;
-
Proporcione
momentos lúdicos, como jogos em equipa, em que os irmãos possam jogar juntos;
-
Ensine-os a serem
solidários um com o outro e a respeitar as diferenças, dificuldades e
características de cada um;
-
Não permita que
gozem com as dificuldades ou características um do outro;
-
Dê-lhes espaço
para gerirem e resolverem as brigas e discussões. Não ceda à tentação de se
intrometer e não os deixar desenvolver um espaço de resolução e conciliação;
-
Se algum dos seus
filhos apresenta maior dificuldade em responder, defender-se ou expressar a sua
vontade ao irmão, ajude-o a desenvolver essas capacidades;
-
Converse com os
seus filhos frequentemente, em conjunto, respeitando e proporcionando
oportunidades em que todos possam dar a sua opinião e em que todas as opiniões
sejam respeitadas;
-
Transmita-lhes com
frequência que todos são diferentes e que cada um pode gostar e fazer o que
gosta. No caso de ter um filho mais velho já desportista ou a desenvolver uma
actividade extra-curricular desde pequeno, tenha cuidado se optar por colocar o
seu filho mais novo na mesma actividade. Nestas situações, com frequência,
corre o risco de o seu filho mais novo, mesmo que não goste da actividade, se
sentir pressionado a continuar para ganhar o apreço dos pais e, até, do irmão;
-
Tenha cuidado na
tomada de partidos em discórdias entre irmãos;
-
Ajude-os,
individualmente, a desenvolver a sua independência, gostos próprios, autonomia,
competências e interesses.
Rita Castanheira Alves
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