quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Eu quero, posso e mando.

(texto escrito por Maria João Matos, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia)

Foto: momjunction.com

Eu quero, posso e mando.

Esta é uma expressão comum no discurso de algumas crianças e adolescentes, à qual alguns pais assistem sentindo-se incapazes de atuar, e permitindo que continue a fazer parte do vocabulário dos filhos.

É certo e sabido que os pais definem, desde o nascimento dos seus filhos, regras e limites. Apesar de esta ser uma matéria apreendida por todos, deparamo-nos com uma situação de fragilidade nas famílias, perfeitamente detetada no crescimento dos mais novos lá de casa.

Crianças que crescem num registo de “eu quero, posso e mando”, acabam muitas vezes por “tiranizar” os pais, invertendo a autoridade e acatando sérios riscos na vida pessoal, escolar e social.

Vivemos numa sociedade em que cada vez mais se apela à noção do “sem limites” ou do “prazer total”, parecendo esta dificultar os pais no exercício do seu papel, gerando uma incapacidade na implementação de regras e limites no dia a dia dos filhos.

Assistimos a inúmeros pais que se queixam que os filhos estão constantemente a fazer pedidos, aos quais acabam por aceder continuamente, abdicando eles próprios de satisfazer algumas necessidades, por incapacidade de fazer parar este ciclo. Situações deste género contribuem de forma séria para que os papéis parentais se diluam e se confundam. 

São exemplos destas situações pais e filhos muito próximos, que dizem ser os melhores amigos e confidentes, e pais que não dizem Não aos filhos e que acatam quase indiscriminadamente todos os seus pedidos. Deste modo, acabam por ser vítimas de um consumismo, que gera um vazio e uma confusão total. Por sua vez, este vazio e confusão é, na maior parte das vezes, preenchida através do consumo.

Mas porquê continuar a persistir na ausência de um modelo de educação virado para valores que os filhos tanto necessitam, para que sejam adultos emocionalmente estáveis?

Porque é que existem tantos pais a fazê-lo?  Porque parece tão difícil de implementar, se todos conhecem as consequências?

Vale a pena reflectir sobre isto, sem acusações ou sentimentos de culpa.

A atenção, o tempo, a disponibilidade genuína e o afeto, podem funcionar como o reverso da moeda do consumo, do vazio e da confusão, isto é, da ausência de regras e limites.
                  
                                                                                                                                                                                  Maria João Matos
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo- Oficina de Psicologia
                  

3 comentários:

  1. Estou a viver uma situação semelhante a esta. O meu pai em vez de acarinhar, amar e ajudar o meu irmao (adolescente) compra coisas, compra lhe o amor. E ele nao liga nada a isso. Em vez disso, revolta-se; responde, foge da escola. Algum conselho?

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    1. Olá! Pessoalmente, não poderei aconselhá-la, visto que não é a minha área. Contudo, irei passar a sua questão à Oficina de Psicologia. Beijinhos e que corra tudo bem.

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    2. Numa primeira instância, realçaria o final do artigo: atenção, tempo, disponibilidade genuína e afecto. Quando um jovem apresenta comportamentos disruptivos, pode estar a manifestar algum "desconforto" que não está a conseguir verbalizar. Nesse sentido, o afecto ajuda a serenar emoções fortes e a atenção e disponibilidade dão espaço para que os medos, as preocupações, as dúvidas e as angústias sejam exteriorizados. Assim, mostrar disponibilidade para ouvir o seu irmão na partilha do que pensa e sente, sem que se sinta obrigado a fazê-lo, será um importante primeiro passo para que se sinta apoiado.
      Se as alterações de comportamento e humor se prolongarem no tempo, poderá ser importante marcar uma consulta junto de um técnico especializado, como um Psicólogo.
      Ficamos disponíveis para qualquer questão que tenha.
      Um abraço nosso,
      Inês Afonso Marques
      Psicóloga Clínica
      Oficina de Psicologia

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