(texto escrito por Maria João Matos, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia)
Foto: momjunction.com |
Eu quero, posso e mando.
Esta é uma expressão comum no discurso de algumas crianças e
adolescentes, à qual alguns pais assistem sentindo-se incapazes de atuar, e permitindo
que continue a fazer parte do vocabulário dos filhos.
É certo e sabido que os pais definem, desde o nascimento dos
seus filhos, regras e limites. Apesar de esta ser uma matéria apreendida por
todos, deparamo-nos com uma situação de fragilidade nas famílias, perfeitamente
detetada no crescimento dos mais novos lá de casa.
Crianças que crescem num registo de “eu quero, posso e mando”, acabam muitas vezes por “tiranizar” os pais, invertendo a
autoridade e acatando sérios riscos na vida pessoal, escolar e social.
Vivemos numa sociedade em que cada vez mais se apela à noção
do “sem limites” ou do “prazer total”, parecendo esta dificultar
os pais no exercício do seu papel, gerando uma incapacidade na implementação de
regras e limites no dia a dia dos filhos.
Assistimos a inúmeros pais que se queixam que os filhos
estão constantemente a fazer pedidos, aos quais acabam por aceder continuamente,
abdicando eles próprios de satisfazer algumas necessidades, por incapacidade de
fazer parar este ciclo. Situações deste género contribuem de forma séria para
que os papéis parentais se diluam e se confundam.
São exemplos destas
situações pais e filhos muito próximos, que dizem ser
os melhores amigos e confidentes, e pais que não dizem Não aos filhos e que acatam quase indiscriminadamente todos os seus pedidos. Deste modo, acabam por ser vítimas de um consumismo, que gera um vazio e uma
confusão total. Por sua vez, este vazio e confusão é, na maior parte das vezes, preenchida através do consumo.
Mas porquê continuar a persistir na ausência de um modelo de
educação virado para valores que os filhos tanto necessitam, para que sejam adultos
emocionalmente estáveis?
Porque é que existem tantos pais a fazê-lo? Porque parece tão difícil de implementar, se
todos conhecem as consequências?
Vale a pena reflectir sobre isto, sem acusações ou
sentimentos de culpa.
A atenção, o tempo, a disponibilidade genuína e o afeto, podem
funcionar como o reverso da moeda do consumo, do vazio e da confusão, isto é, da
ausência de regras e limites.
Maria
João Matos
Psicóloga
Clínica
Equipa
Mindkiddo- Oficina de Psicologia
Estou a viver uma situação semelhante a esta. O meu pai em vez de acarinhar, amar e ajudar o meu irmao (adolescente) compra coisas, compra lhe o amor. E ele nao liga nada a isso. Em vez disso, revolta-se; responde, foge da escola. Algum conselho?
ResponderEliminarOlá! Pessoalmente, não poderei aconselhá-la, visto que não é a minha área. Contudo, irei passar a sua questão à Oficina de Psicologia. Beijinhos e que corra tudo bem.
EliminarNuma primeira instância, realçaria o final do artigo: atenção, tempo, disponibilidade genuína e afecto. Quando um jovem apresenta comportamentos disruptivos, pode estar a manifestar algum "desconforto" que não está a conseguir verbalizar. Nesse sentido, o afecto ajuda a serenar emoções fortes e a atenção e disponibilidade dão espaço para que os medos, as preocupações, as dúvidas e as angústias sejam exteriorizados. Assim, mostrar disponibilidade para ouvir o seu irmão na partilha do que pensa e sente, sem que se sinta obrigado a fazê-lo, será um importante primeiro passo para que se sinta apoiado.
EliminarSe as alterações de comportamento e humor se prolongarem no tempo, poderá ser importante marcar uma consulta junto de um técnico especializado, como um Psicólogo.
Ficamos disponíveis para qualquer questão que tenha.
Um abraço nosso,
Inês Afonso Marques
Psicóloga Clínica
Oficina de Psicologia