quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Lá em casa, agora somos 3

IMPLICAÇÕES DO NASCIMENTO DE UM FILHO NA DINÂMICA DO CASAL.

(texto escrito pela psicóloga clínica Liliana Branco)

Foto encontrada no Pintrest.

Uma criança nasce, para os seus pais, ainda antes de existir para o mundo. É, contudo, com a confirmação da gravidez que se iniciam as mudanças na relação do casal. O casal deixa de existir apenas como marido e mulher e como filhos e passam a ser também pais. Estas alterações são mais pronunciadas aquando do nascimento do primeiro filho.

A vinda de uma criança implica a vivência de uma nova etapa do ciclo de vida da família, que trás consigo múltiplos desafios e irá afectar toda a família, exigindo uma reorganização em todo o sistema familiar.

Existem múltiplos casais que pensam que com o nascimento de uma criança os problemas conjugais e familiares ficam resolvidos. Contudo, muitas vezes, sucede o inverso e os conflitos e os problemas agudizam-se, pois as mudanças necessárias na dinâmica do casal são múltiplas e muitos não conseguem adaptar-se a elas.

Segundo alguns estudos que se debruçam sobre esta área, parece haver um decréscimo da satisfação do casal depois do nascimento de um bebé mas, apesar disso, alguns casais mantém-se unidos e felizes depois de serem pais. Importa, então, saber o que é que estes casais estão a fazer bem e porque é que tantas relações sofrem depois da chegada de uma criança.

Parece, de acordo com os mesmos estudos, que os conflitos entre o casal sofrem um aumento gradual depois do nascimento de um bebé, sendo que, existe uma erosão cumulativa ao longo do tempo. E o que fazem de diferente os casais que se mantêm felizes? Como é obvio têm conflitos, como todos os casais, mas conseguem lidar com o processo de tomada de decisão de modo mais assertivo, possuindo capacidades mais desenvolvidas de negociação, cooperação e respeito; mais do que ouvir, escutam-se, sem culpar o outro imediatamente e têm a capacidade de pedir desculpa e de reconhecer que o seu erro perante o outro.

A verdade é que, quase todos os casais têm aulas de preparação para o parto mas, quantos casais frequentam curso/aulas de preparação para os anos vindouros, para os desafios da paternidade e para aprender a transpor os obstáculos normativos do ciclo de vida da família e a vencer os desafios de criar e educar uma criança?

A divisão de tarefas e a gestão do tempo em família são também apontados pelos estudos supracitados como motivos frequentes de conflito no casal. A estes pode juntar-se um outro motivo de conflito que não é mais do que o reflexo do estado da relação: o sexo sendo que, nos primeiros dois anos, diminui a frequência com que os casais fazem amor, o que fica, muitas vezes, a dever-se à exaustão da mãe ou ao facto de esta se sentir pouco atraente no período do pós-parto, É importante que ambos sejam claros nos seus motivos e que escutem o outro,

procurando soluções alternativas em que a proximidade do casal seja reforçada e mostrem que se importam um com o outro.

O que podem, então, fazer os elementos do casal para cuidar do seu casamento e da sua relação?

- Explorem os assuntos que são fonte de discordância com o parceiro quando estiverem calmos, sem medo de trazer o assunto de volta. Se existirem mal entendidos, estes podem transformar-se em ressentimento;

- Evitem discutir à frente dos filhos;

- Tirem tempo para a relação: mesmo que não possam pagar a uma babysitter, dediquem dez minutos do vosso dia um ao outro, por exemplo , depois de deitarem as crianças;

- Façam uma lista das tarefas a dividir;

- Planifiquem momentos esporádicos em que possam estar sozinhos, sem o outro, e desfrutem desses momentos sem sentimento de culpa. Eles trarão “balões de oxigénio” que vão beneficiar a relação;

- Façam com que o vosso par se sinta incluído nos cuidados ao bebé, para que não se sinta à margem;

- Continuem a cativar-se mutuamente e inventem novas formas de o fazer, de modo a incluir o novo membro da família;

- Tomem as decisões em conjunto, explorem as diferentes alternativas possíveis e procurem debater os argumentos de cada, procurando alcançar um consenso;



E não se esqueçam de que por se tornaram pais, não são pessoas diferentes, não deixaram de gostar das coisas que gostavam, nem de ser quem eram. Todas as coisas de que gostava no outro continuam lá, e todas as coisas de que gostavam menos também. Só têm que redescobri-las nesta nova realidade que é a de lá em casa, agora serem 3!

Liliana Branco
Psicóloga Clínica
Equipa Mindkiddo
Oficina de Psicologia 

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