segunda-feira, 5 de maio de 2014

Medos no bebé - Reação ao "Estranho": Não me deixes...

(texto escrito pela Psicóloga Clínica Inês Afonso Marques)
Encontrado em parents.com
Por volta dos nove mesesde idade, os bebés revelam-se uns seres sociais adoráveis... Até que um estranho apareça! Muitos bebés, por volta desta idade, começam a demonstrar medo e vergonha na presença de pessoas que não lhe são familiares. Algumas crianças chegam mesmo a “rejeitar” caras familiares e anseiam por estar junto, e em exclusivo, do cuidador principal.

À semelhança de outras etapas de desenvolvimento, também quando falamos desta “reacção ao estranho”, cada criança deve ser encarada como um ser único e com caracterísiticas muito próprias. Assim, ela pode quase nem ser notada ou, por outro lado, perdurar no tempo. Em todo o caso, esta é uma fase emocional esperada ao longo do desenvolvimento saudável, começando a manifestar-se quando o bebé adquire a noção de “permanência de objecto”, ou seja, o bebé compreende que algo ou alguém continua a exisitir mesmo quando não os vê.

"Então mas agora vão afastar-me da pessoa que cuida de mim, que me proteje, que me faz sentir seguro?!? Não quero!"

Quando a entrada para a creche coincide com esta etapa de desenvolvimento, a separação pode, para algumas crianças, ser dolorosa. O bebé está habituado aos seus contextos e caras familiares, que lhe transmitem segurança, e aprecia a previsibilidade do seu dia a dia. Por esse motivo, alterações às rotinas, nomeadamente com a entrada para a creche, podem abalar temporariamente a sensação de segurança, pois a criança vê-se, de repende, num local pouco familiar e com muitos estranhos.

Como preparar o bebé para estas separações?

Como em qualquer outra situação de transição, permita que o bebé se habitue gradualmente à mudança.
Pratiquem! Será mais fácil o bebé lidar com a sua ausência se for ele a iniciar uma separação. Deixe que gatinhe ou caminhe para outra divisão da casa (assegurando-se que estará bem sem a sua supervisão por breves instantes) e aguarde alguns minutos antes de ir ao seu encontro. Poderá, também em casa, sempre que deixa o bebé, dizer-lhe num tom calmo e seguro onde vai e que estará de volta passado uns instantes. Assim, mostrará que tudo fica bem na sua ausência e que, apesar de se ausentar, regressa sempre.

Diga sempre adeus! Nunca desapareça sem aviso. Dessa forma, a criança sentir-se-à mais perdida. Beijinhos e abraços são benvindos na hora do adeus, acompanhados de uma breve explicação de onde vai e quando volta. . A noção temporal das crianças é limitada, mas poderá usar referências como “depois da sesta”, “quando ficar de noite” ou “a seguir ao lanche”.

Lembre-se que o bebé está em sintonia com as suas emoções. Tente não chorar nem mostrar-se aborrecido/a se o bebé começa a chorar.

Ao sair, não volte atrás. Voltar atrás repetidademente para acalmar o bebé tornará a situação mais dificil para si, para o seu filho e para a pessoa que ficará com ele.

Seja o mais natural possível. Os seus gestos demonstram quão natural a situação de separação é.

E quando não passa com o tempo?

Apesar de, como referido, estas reacções de maior vulnerabilidade à separação serem habitualmente uma fase transitória normal no desenvolvimento de uma criança, muitas crianças mais crescidas continuam a vivenciar um medo extremo, exagerado, despropositado, de se separarem dos seus cuidadores. Nesse caso, podemos estar perante um quadro de ansiedade de separação. Há crianças que recusam ir para a escola, outras referem pesadelos cujo tema é a perda. Há crianças que se queixam de dores, náuseas ou vómitos sempre que antecipam uma separação, mesmo que breve, dos cuidadores, outras recusam-se a estar sozinhas. 

Independentemente das “formas” que toma, a ansiedade de separação manifestada pela criança pode deixar toda a família vulnerável, comprometendo o equilíbrio psicológico individual e da própria família, quando:

- a intensidade das emoções e a frequência dos episódios de ansiedade é significativamente superior ao esperado para idade da criança;
- a ansiedade interfere na capacidade de adaptação da criança e compromete significativamente algumas áreas da sua vida, como a alimentação, o sono, as relações ou a aprendizagem;
- o sofrimento da criança se torna incapacitante para os próprios cuidadores;
- os sintomas ansiosos persistem no tempo;

... Pode ser importante, e bastante útil, procurar ajuda junto de profissionais especializados, no sentido de diminuir os níveis de sofrimento, reencontrar a tranquilidade e estabilizar as emoções.

Inês Afonso Marques
Psicóloga Clínica - Equipa Mindkiddo – área infanto-juvenil da Oficina de Psicologia


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