(texto escrito pela Psicóloga Clínica Inês Afonso Marques)
Encontrado em parents.com |
Por volta dos nove mesesde idade, os bebés revelam-se uns
seres sociais adoráveis... Até que um estranho apareça! Muitos bebés, por volta
desta idade, começam a demonstrar medo e vergonha na presença de pessoas que
não lhe são familiares. Algumas crianças chegam mesmo a “rejeitar” caras
familiares e anseiam por estar junto, e em exclusivo, do cuidador principal.
À semelhança de outras etapas de desenvolvimento, também
quando falamos desta “reacção ao estranho”, cada criança deve ser encarada como
um ser único e com caracterísiticas muito próprias. Assim, ela pode quase nem
ser notada ou, por outro lado, perdurar no tempo. Em todo o caso, esta é uma
fase emocional esperada ao longo do desenvolvimento saudável, começando a
manifestar-se quando o bebé adquire a noção de “permanência de objecto”, ou
seja, o bebé compreende que algo ou alguém continua a exisitir mesmo quando não
os vê.
"Então mas agora vão afastar-me da pessoa que cuida de
mim, que me proteje, que me faz sentir seguro?!? Não quero!"
Quando a entrada para a creche coincide com esta etapa de
desenvolvimento, a separação pode, para algumas crianças, ser dolorosa. O bebé
está habituado aos seus contextos e caras familiares, que lhe transmitem
segurança, e aprecia a previsibilidade do seu dia a dia. Por esse motivo,
alterações às rotinas, nomeadamente com a entrada para a creche, podem abalar
temporariamente a sensação de segurança, pois a criança vê-se, de repende, num
local pouco familiar e com muitos estranhos.
Como preparar o bebé para estas separações?
Como em qualquer outra situação de transição, permita que
o bebé se habitue gradualmente à mudança.
Pratiquem! Será mais fácil o bebé lidar com a sua
ausência se for ele a iniciar uma separação. Deixe que gatinhe ou caminhe para
outra divisão da casa (assegurando-se que estará bem sem a sua supervisão por
breves instantes) e aguarde alguns minutos antes de ir ao seu encontro. Poderá,
também em casa, sempre que deixa o bebé, dizer-lhe num tom calmo e seguro onde
vai e que estará de volta passado uns instantes. Assim, mostrará que tudo fica
bem na sua ausência e que, apesar de se ausentar, regressa sempre.
Diga sempre adeus! Nunca desapareça sem aviso. Dessa
forma, a criança sentir-se-à mais perdida. Beijinhos e abraços são benvindos na
hora do adeus, acompanhados de uma breve explicação de onde vai e quando volta.
. A noção temporal das crianças é limitada, mas poderá usar referências como
“depois da sesta”, “quando ficar de noite” ou “a seguir ao lanche”.
Lembre-se que o bebé está em sintonia com as suas
emoções. Tente não chorar nem mostrar-se aborrecido/a se o bebé começa a
chorar.
Ao sair, não volte atrás. Voltar atrás repetidademente para
acalmar o bebé tornará a situação mais dificil para si, para o seu filho e para
a pessoa que ficará com ele.
Seja o mais natural possível. Os seus gestos demonstram
quão natural a situação de separação é.
E quando não passa com o tempo?
Apesar de, como referido, estas reacções de maior
vulnerabilidade à separação serem habitualmente uma fase transitória normal no
desenvolvimento de uma criança, muitas crianças mais crescidas continuam a
vivenciar um medo extremo, exagerado, despropositado, de se separarem dos seus
cuidadores. Nesse caso, podemos estar perante um quadro de ansiedade de
separação. Há crianças que recusam ir para a escola, outras referem pesadelos
cujo tema é a perda. Há crianças que se queixam de dores, náuseas ou vómitos
sempre que antecipam uma separação, mesmo que breve, dos cuidadores, outras
recusam-se a estar sozinhas.
Independentemente das “formas” que toma, a
ansiedade de separação manifestada pela criança pode deixar toda a família
vulnerável, comprometendo o equilíbrio psicológico individual e da própria
família, quando:
- a intensidade das emoções e a frequência dos episódios
de ansiedade é significativamente superior ao esperado para idade da criança;
- a ansiedade interfere na capacidade de adaptação da
criança e compromete significativamente algumas áreas da sua vida, como a
alimentação, o sono, as relações ou a aprendizagem;
- o sofrimento da criança se torna incapacitante para os
próprios cuidadores;
- os sintomas ansiosos persistem no tempo;
... Pode ser importante, e bastante útil, procurar ajuda
junto de profissionais especializados, no sentido de diminuir os níveis de
sofrimento, reencontrar a tranquilidade e estabilizar as emoções.
Inês Afonso
Marques
Psicóloga
Clínica - Equipa
Mindkiddo – área infanto-juvenil da Oficina de Psicologia
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