É um dos melhores presentes (senão mesmo o melhor!) que se pode dar a
um filho.
É um gadget mega versátil,
que não precisa de upgrade, pois nenhuma versão seguinte o vai o ultrapassar.
É um pack ilimitado de
brincadeiras, interações, de gestão de emoções, de exploração de si mesmo e do
mundo.
Os irmãos derretem-se no abraço um do outro e degladiam-se pela
conquista de espaço, tempo e valorização.
Tudo acontece num minuto e tudo desaparece no seguinte.
Uma delícia louca de assistir e, em simultâneo, um caos que se procura
orientar.
Fazem-se os primeiros ensaios de relação com os pares em casa, na
«batalha» do dia-a-dia por um brinquedo, atenção, mimo, protagonismo… coisas de
irmãos!
As interações que se desenvolvem no seio familiar refletem padrões
transacionais que se repetem no tempo e são sequências que vão regulando os
afetos, os comportamentos e aquilo que cada elemento pensa sobre si, sobre o
outro e o seu papel.
Cada família vai desenvolvendo o seu modelo de relações e daí a minha
paixão pelo trabalho com famílias e a sua complexidade.
É esta complexidade estimulante que Minuchin (1979) descreveu como
«rede invisível de necessidades funcionais, que organiza o modo como os membros
da família interagem», que vamos dando substracto para gerar os nossos filhos.
De entre os vários subsistemas que compõe a família (individual,
conjugal, parental e fraternal), o subsistema fraternal, é aquele que é constituído
pelos irmãos e que representa precisamente esse terreno fértil de
experimentação de papéis sociais face ao mundo exterior à família (escola,
trabalho,etc).
É neste subsistema que as crianças desenvolvem as suas capacidades com
o grupo de iguais e desenvolvem capacidades de inter-ajuda, competição,
solidariedade, resolução de conflitos, afirmação de convicções, argumentação,
que desenvolvem o próprio saber brincar.
A interação entre irmãos é, pois, uma máquina poderosa de produção de
memórias que gravam e acompanham uma vida.
A última frase carrega por si só o peso de uma interação que se quer
saudável e mais igualitária, na qual os pais devem ter um papel fundamental de
equilíbrio e regulação, evitando preferências e sobrevalorizações
unidirecionais. Apela-se a um lado justo e imparcial mesmo tratando-se dos
próprios filhos. Permitam que os seus filhos resolvam as suas próprias questões, arbitrando aqui e ali quando necessário.
Entretanto é “permitido” aos pais que tenham mais identificação com um
dos filhos do que com o outro, por caraterísticas de personalidade mais
próximas, afinidades com percurso desenvolvimental ou mesmo de semelhança de
traços físicos. É permitido, mas sem alianças que criem nichos de uns contra os
outros.
Os irmãos são compinchas que saem na rifa da vida e que se leva para
sempre num sem fim de momentos: choros, risos, segredos, lutas, escaladas, mas
que permitem ligações duradouras de pertença «Um por todos e todos por um».
Quem não tem esta ligação de sangue com um irmão, pode sempre
consegui-lo nalguns felizes acasos que a vida nos proporciona e liga a certas
pessoas que se tornam como irmãos e se grudam em nós para a Vida.
Ana Oliveira
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar/casal – Oficina de Psicologia
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