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Por vezes é
como se vivêssemos um paradigma completamente diferente do passado no
que toca à
educação das nossas crianças. Ouvimos falar de liberdade, desejos, amor,
carinho, espaço e tempo para crescer, para brincar…Ingredientes fundamentais
para que qualquer criança cresça feliz e mais adaptada, mas talvez não os
únicos. A verdade é que, por vezes, passamos para uma forma de educação tão
focada nos desejos e necessidades da criança que, por ser difícil ou por não
termos o devido tempo e paciência, descuramos nas regras.
Porquê educar as crianças para as regras?
Colocamos
regras porque elas são fundamentais para o desenvolvimento da criança e constituem
uma das necessidades mais básicas que estas têm (mesmo que não o consigam expressar).
Sabia que o
nosso cérebro vem predisposto a armazenar um sem número de regras? Por um
simples motivo, porque isso é organizador para nós!
As regras
(ditas por outros ou apreendidas por nós através da experiência) dão-nos “balizas”
sobre o que são comportamentos adequados ou desadequados, sabemos até onde podemos
ir nas relações sociais, integramo-nos melhor, estamos mais protegidos, sabemos
evitar situações de perigo, estamos mais organizados mentalmente e mais
motivados, porque sabemos um sem número de regras. Por isso aprendemos regras
até morrer, porque em cada contexto novo o nosso cérebro tem que se adaptar e
saber com que limites pode contar.
Qual é o problema de não ter regras
suficientes?
Não poder
contar com a orientação dos pais no que diz respeito às regras dificulta a vida
de qualquer criança (ao contrário do que poderia parecer), como sinal disto
podemos observar alguns sinais.
Podemos ver
as crianças mais desorganizadas a nível comportamental, sem saber o que fazer,
como fazer, sentem-se perdidas no tempo e no espaço (p.e. quando há ausência de
limite no tempo para brincar com jogos eletrónicos e a hora de ir deitar, as
criança arrasta estas atividades e fica mais rabugenta, sem saber o que fazer a
seguir, será que cede ao que o corpo quer ou continua a resistir?). Podem
também estar mais desorganizadas emocionalmente, porque as regras ensinam
também uma série de comportamentos de conduta ou de regulação das emoções (p.e.
quando ensinamos que não pode dar pontapés a tudo o que causa frustração à
criança, estamos a ajudá-la a parar um pouco e a ganhar controlo sobre si).
Assistimos
também a crianças com alguma dificuldade em se adaptarem aos padrões e regras
escolares, causando-lhes muita confusão e até revolta por, de repente, terem de
cumprir tantas normas “sem sentido” para elas.
Para além
disto, com o passar do tempo poderemos estar a criar crianças com baixa tolerância
à frustração, uma vez que as regras permitem que desde cedo a criança lide com momentos,
onde mesmo não tendo muita vontade, tem de cumprir algo. Esta contrariedade permite-lhe
ir lidando com pequenas doses de frustração que a deixaram mais preparada para os
grandes dissabores que a vida possa trazer.
Finalmente,
e devido a tudo isto, sem regras as crianças têm espaço para criar as suas próprias
regras desadequadas (p.e. “se eu chorar tenho o que quero”, “os outros brincam sempre
ao que que eu quero”, “eu ganho sempre…”) e têm mais dificuldades a nível das relações,
pois até as relações entre amigos têm regras (não explicitas, mas ainda assim
regras), como por exemplo “umas vezes ganhas tu e outras eu”, “eu ajudo, mas tu
também me ajudas”, “podes brincar comigo até um certo limite…”.
Qual o perigo de colocarmos regras a mais?
Importante é
não cair no extremo oposto, onde tudo tem uma regra, onde todos os momentos da
vida da criança são “controlados” de alguma forma, por regras rígidas e inflexíveis.
Neste extremo, pode acontecer a criança ficar muito dependente destas regras e ter
pouca flexibilidade para lidar com imprevistos. As regras dão-nos segurança
quando na dose certa, em excesso poderão passar a mensagem de que o mundo é um
lugar demasiado perigoso onde temos de ter muito cuidado.
Para além
disto, a nível social também é sempre importante uma dose de improviso e flexibilidade
perante comportamentos ou atitudes dos outros, que neste caso poderá ser mais difícil,
uma vez que o “código interno de regras” pode ser tão rígido. Deixamos assim a
criança sem espaço para ser criativa, imaginativa e flexível.
Nem muito,
nem pouco, na dose certa.
Se pensarmos
as regras como uma forma de ajudar a criança a ter alguma organização e estabilidade
no mundo, penso que temos metade do trabalho feito sobre quais as regras que devemos
ou não colocar em casa, na escola ou em qualquer contexto.
Por isso é
importante termos algumas regras básicas, relacionadas com a saúde física da crianças:
p.e. horas de dormir, de comer, do banho, do vestir… E outras relacionadas com regras
de conduta: p.e. arrumar os brinquedos, não bater, dizer obrigado, respeitar um
pedido da mãe … Mas na dose certa, com alguns momentos onde há mais regras
(p.e. a hora do banho ou do comer) e outros onde há menos (p.e. na
brincadeira). Depois vamos dando tempo e espaço para a criança as ir assimilando
e nós damos o devido apoio, relembramos, somos consistentes e nós mesmos damos
o exemplo!
Inês
Custódio
Psicóloga
Clínica na Oficina de Psicologia
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ResponderEliminarSofiazinha, sem querer eliminei o comentário em que chamava a atenção para um "erro ortográfico". Não foi propositado e, se quiser, volte a escrever que eu publico. Seja como for, o erro (na palavra cede) já foi corrigido e agradeço o seu cuidado. Contudo, não creio que se tenha tratado de um erro, como referiu, mas sim de uma gafe ou, quanto muito, passou ao lado. Estou certa que a autora sabe conjugar o verbo "ceder" e distingui-lo da palavra "sede" :) beijinhos (eu própria sei a diferença, acredite, li o texto antes de o publicar e também me passou ao lado. Acontece. Atualizo o blog à noite, já depois de um looongo dia, e o cansaço não ajuda). bjs
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