sábado, 19 de setembro de 2015

CONSULTÓRIO: A criança explosiva – as perturbações disruptivas do comportamento

Foto: Pinterest

(texto escrito pela psicóloga Natália Antunes, da Oficina de Psicologia)

Nos últimos anos são cada vez mais frequentes as histórias de crianças que, apesar da sua tenra idade, manifestam comportamentos considerados desajustados e explosivos, ou seja, as chamadas perturbações de oposição e perturbações do comportamento

Estas perturbações incluem um padrão persistente de dificuldade em aceitar regras, comportamentos de auto e heteroagressividade (sobretudo após situações em que lhes é negada alguma coisa), ou comportamentos anti-sociais de gravidade variável (roubos, mentiras, fugas, destruição de propriedade, nomeadamente dos seus brinquedos ou dos bens de outras pessoas). Na maior parte das vezes a queixa configura-se pela ausência de aproveitamento escolar e/ou pela exaustão sentida pelos pais e outros adultos que já não sabem que mais podem fazer.

Estas perturbações são mais frequentes no sexo masculino, representando cerca de 5% dos rapazes em idade escolar, embora cada vez mais surjam pedidos relativos a raparigas.

Como surgem estas perturbações de oposição e comportamento? 

Como facilmente poderemos depreender, está na base destes problemas a ineficácia das regras e dos limites estabelecidos. Nas narrativas familiares encontramos muitas vezes a alternância aleatória entre rigidez excessiva e ausência de controlo/limites, ou seja, não existe consistência no estabelecimento de regras e de consequências comportamentais, sendo que podemos encontrar castigos severos para comportamentos menores e ausência de consequência para comportamentos mais graves.

Mas desenganemo-nos se achamos que estas situações são apenas comportamentais! A verdade é que é comum encontrarmos crianças com temperamento mais difícil, bem como outras vulnerabilidades somáticas na criança, nomeadamente através da existência de quadros como a epilepsia ou algumas lesões cerebrais.

Na maior parte das vezes estes quadros associam-se com as chamadas dificuldades de aprendizagem, sendo estas o principal sinal de alerta!

Nestes quadros a intervenção é sobretudo comportamental e deverá ser articulada com todos os agentes que atuam junto da criança: pais, escola e outros agentes significativos! Torna-se, portanto, fundamental motivar toda a família para a verdadeira mudança! 

Um dos primeiros passos a fazer consiste na psicoeducação sobre as consequências para o comportamento, quer positivo quer negativo. Ou seja, há que desaconselhar as punições físicas, sublinhar a importância da coerência de regras/atitudes, impedir benefícios secundários com o sintoma (já pensaram como as crianças querem a nossa atenção e nós damos-lhes essa atenção quando se comportam mal?) e fomentar outras formas de expressão da agressividade.

Para além disso, deverá ser realizado um trabalho de articulação com a escola: planear intervenções ao nível da escola que facilitem a integração no grupo de pares e o investimento de atividades lúdicas/desportivas.

Apesar de os pais nos chegarem muitas vezes exaustos e desmotivados com estas situações, a verdade é que uma intervenção consistente e regrada tem muitas vezes um impacto muito positivo e eficaz no comportamento das crianças! E como não poderia deixar de ser, rapidamente passam da zanga e desilusão ao orgulho pelo crescimento notório que os seus filhos têm em cada comportamento diferente!

Vamos lá orgulhar-nos dos nossos pestinhas?


Natália Antunes
PsicólogaClínica

Oficina de Psicologia

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue

Seguidores