Cá em
casa praticamos co-sleeping, que é como quem diz, dormimos em família. E é tão
quentinho. Devemos?
Encontrado em get-your-baby-to-sleep.com |
(texto escrito por Rita Castanheira Alves, Psicóloga Clinica do Psicóloga dos Miúdos)
São várias os casais parentais, as mães, os
pais, que me procuram, frequentemente com outro tipo de preocupações, mas que
ao explorarmos as rotinas percebo que dormem com o filho, e às vezes com os
filhos, na mesma cama. E não se tratam de bebés ou crianças muito pequenas. Sei
geralmente perceber quais as famílias que provavelmente o fazem e que famílias
não o fazem, de acordo com o que me vão contando.
A partilha de cama com os filhos é um tema
controverso, com opiniões que se dividem. Há especialistas e pais que defendem
que aumenta a ligação e a afetividade entre pais e filhos e outros que
defendem que essa prática constante coloca aos miúdos desafios difíceis de
criação de segurança e autonomia.
Em primeiro lugar, mais uma vez, é preciso
recordar que a falta de sono ou a possibilidade da mesma nos filhos pequenos
preocupa a grande maioria dos pais. Ficam ansiosos porque as crianças vão
acordar rabugentas, não vão estar bem para aprender, a rotina vai correr mal e
o dia será sempre mais complicado. Por outro lado, com tanto para fazer, o
adiamento do momento de aprenderem a dormir sozinhos vai sendo constante, o que
complica a situação, porque nunca chega o momento ideal: porque agora é tempo
de escola, depois está doente, agora estamos muito cansados e depois é inverno...
As pesquisas mostram que uma em quatro crianças tem problemas de sono, seja por dificuldade em adormecer ou por acordarem sistematicamente durante a noite. Em geral, a causa não é médica, mas sim comportamental. A verdade é que, hoje,
sabe-se que crianças que dormem com os pais têm mais dificuldade em conseguir,
sozinhas, regular os ritmos de sono, securizarem-se, regularem-se
emocionalmente e, de forma autónoma, para se sossegarem. E tal é compreensível.
Na verdade, sempre se socorreram da presença do adulto para o fazer, não tendo
desenvolvido a necessidade, nem sido ensinadas a fazê-lo.
Os primeiros anos da criança, devem ser usados
para que os pais a ajudem a regular os ritmos de sono e lhe deem as condições e
ferramentas necessárias para que o consiga aprender a fazer sozinha. Em termos
de desenvolvimento psicológico, a criança ao ter “assistentes” sempre
presentes, que a comandam no momento de acalmar e de se sossegar, pode, ao longo
do crescimento, experimentar mais dificuldades de autonomia e autoconfiança e
dependência excessiva, uma vez que não tendo um espaço só seu, sem adultos, não
tem condições para desenvolver a sua própria criatividade, autoconhecimento e
autoregulação e, como tal, o processo de separação-individuação é fragilizado e
dificultado.
É mais frequente do que se calhar
imagina, mas muitas das famílias que perpetuam a partilha de cama com os
filhos, apresentam problemas e/ ou conflitos conjugais e a presença da criança
na cama desfoca esses problemas e cria a distância suficiente para que os
mesmos não sejam enfrentados e “mexidos”. Acontece nestes casos, e não só, haver
inclusivamente uma discórdia entre os elementos do casal relativamente a esta
partilha de cama, o que, por exemplo, em situações de casais separados, complica
ainda mais o desenvolvimento de autonomia e individuação da criança, pela
irregularidade das práticas ligadas ao sono numa casa e noutra.
De uma forma ou de outra, haverá sempre
argumentos que podem mostrar as vantagens da partilha de cama entre pais e
filhos, inclusivamente argumentos culturais, históricos, de desenvolvimento da
criança e da família, o próprio temperamento da mesma e acontecimentos dos
primeiros anos de vida ou gravidez e até mesmo da história de vida dos pais.
Sintetizando, é importante ter bem presente que a partilha de cama constante e
prolongada com os filhos, durante a infância e, em certos casos, adolescência
dos mesmos, pode trazer dificuldades de autonomia, regulação dos padrões de
sono e das emoções, construção de segurança e independência, tarefas que devem
ser facilitadas e promovidas pelos pais.
É importante os pais refletirem se a partilha
de cama é apenas em função de uma necessidade da criança ou se está a cumprir
uma função para o próprio adulto. Se assim for, ainda irá muito a tempo. É
momento de decidir e permitir que o seu filho comece a dormir sozinho, na sua
cama, num quarto só dele. Tenho a certeza que o fará por ele. E ele sentindo a
sua confiança e certeza, aceitará sem grandes dificuldades.
Rita Castanheira Alves
Psicóloga dos Miúdos
Psicologia Clínica Infantil e Juvenil
e Aconselhamento Parental
Assunto sensivel. Para mim nada melhor que os ter ao nosso lado, claro que não é até aos 18 anos!
ResponderEliminarMas para mim a meu ver, até aos 2 anos.
Adoro e não vou alterar. Ela dorme muito bem, e eu e o marido deliciados a ve-la ali a fazer beicinho e a dormir ferradinha.
<3 beijinhos
EliminarArtigo parcial, nitidamente escrito contra o co-sleeping apesar de não se assumir, sem apresentar qualquer tipo de prova científica. Lamento que os profissionais continuem a "meter-se" na cama dos outros sem sequer se informarem e julgarem imparcialmente os factos (curioso que todos os contras estão a negrito...)
ResponderEliminarOlá bom dia!
EliminarNão poderei falar pela Dra. Rita, mas acredito que o texto tenha por base a experiência que tem com os seus pacientes, a par de estudos que já saíram a este respeito.
Quanto às partes a negrito e sublinhadas, sou eu quem as destaco. O meu objetivo com isto é destacar as ideias principais do texto. Se, como disse, o texto apresenta mais pontos negativos que positivos, é normal que haja mais destaques a reforçar isso. Talvez por ter formação em jornalismo, considero-me uma pessoa que consegue facilmente ser imparcial, independentemente da minha opinião. Até porque posso dizer-lhe que pessoalmente não sou contra o co-sleeping (embora ache que não se deva prolongá-lo por muito tempo). Acredito que cada pai sabe de si e dos seus filhos.
É raro eu dormir com o meu filho mais velho, mas só porque ele não gosta muito, porque quando ele pede eu adoro. (Mas se calhar também adoro porque não é todos os dias. Não sei). Já com o Francisco, que tem agora 3 meses e meio, só não o ponho mais vezes a dormir connosco porque tenho medo de o magoar. De qualquer forma, ainda que não seja contra, percebo perfeitamente os argumentos apresentados no texto e acho que dão que pensar. beijinhos