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Eu faço, eu corro, eu voo, eu
salvo, eu destruo, eu agarro, eu atiro-me.
Eu sou um Menino Super-Herói!
Mas, e se o seu filho se lembra de se transformar em Super-Herói a atravessar a estrada?
Aposto
que se é mãe ou pai fica logo sem qualquer poder especial.
A
verdade é que, atualmente, com o impacto e com a forte presença da televisão, com a
evolução da tecnologia, que permite melhor som, maior e imagem mais real, e com o
aumento da quantidade e diversidade de desenhos animados e jogos electrónicos,
a realidade e a ficção estão lado a lado, quase em risco de, ainda que por
momentos, se fundirem ou baralharem. Ainda mais quando falamos de crianças.
Alguns
pais contam que se assustam com esta confusão ou dificuldade dos filhos em
separar a realidade da ficção e, por momentos, se esquecerem que Super-Heróis só existem nas
histórias. Porque largou a mão e atravessou a estrada a correr: “ - Estava a
imaginar que era um Super-Herói com o poder da velocidade e nenhum carro me
conseguiria bater.”; porque subiu para cima do armário e queria lançar-se: “-
Sou um menino com asas, consigo voar e tenho que saltar para ir salvar os
bons!”; ou porque começou a escalar a estante cheia de livros e objectos pesados:
“-
Tenho o poder das teias, como o homem-aranha.”
São
estes alguns dos exemplos que fazem os pais sentirem-se ansiosos e com vontade
de ter super poderes e convencer os filhos a não saírem da realidade.
Para
percebermos melhor o que acontece, podemos organizar-nos por idades. Até certo
momento a criança não consegue ainda distinguir no que vê, o que é real do que
é fantasia. Pode ver na ficção algo que pensa ser real, vivendo-a de forma
intensa. Este tipo de comportamento é típico a partir dos 3 até aos 6 anos. É
nesta altura que, em simultâneo, o pensamento mágico e a imaginação estão
fervorosos, fazendo com que alguns meninos se esqueçam da realidade e passem a
agir como se aquilo que estão a imaginar fosse real.
Podem
mesmo zangar-se com o que imaginam ou ficar tristes.
Mais
tarde, por volta dos 6 anos, as crianças começam a distinguir o real da ficção,
aquilo que é verdade do que é a fingir. No entanto, poderão viver intensamente
a história que estão a acompanhar, ter um personagem favorito e imitá-lo, ainda
que distingam que é só na brincadeira, dizendo por vezes: “- Agora a fingir que…”
É
a partir dos 10 anos que, por serem mais crescidos, poderão ser menos
monitorizados pelos adultos e por isso aceder a conteúdos que poderão não ser
para a sua idade e, como tal, ter acesso a outro tipo de ficção, em que o herói
pode ser menos simpático do que nos desenhos animados e na realidade correrem
perigo, por arriscarem e quererem ser como esse herói, embora saibam que é um
filme. No entanto, por vezes, ao acederem a filmes com pessoas reais, a noção de
ficção pode por vezes fundir-se com a realidade.
Então
o que fazer quando o meu filho pensa que é um Super-Herói ou se esquece, à beira
da estrada, que está na dimensão da realidade e não do imaginário?
É
importante monitorizar, acompanhar e falar sobre o que viu, o que assimilou e
desenvolver com o seu filho, o espírito crítico. Antes dos 6 anos, reforçar
alguns cuidados, pela maior dificuldade em separar a ficção da realidade e por
se inundarem de fantasia num piscar de olhos. É essencial desenvolver com ele
pequenas tarefas de autonomia, de atenção. Por exemplo, manter a mão dada
quando saem de casa e ir conversando sobre o que vos rodeia, mantendo uma
atitude presente e focada, no aqui e no agora, questionando-o sobre se poderão
atravessar, onde devem andar, onde vão, quantos passam dão, que sons ouvem e o
que mais se lembrar que o ajude a ter uma atitude presente, a que podemos
chamar mindful.
O
“momento da televisão” deve ser vigiado e acompanhado, ainda que não tenha de
estar sempre ao lado do seu filho. No entanto, pode perguntar-lhe o que esteve
a ver e conversarem sobre isso, para que possa ajudá-lo a distinguir realidade
de ficção.
Criar
momentos de fantasia, entrando nas histórias imaginadas que ambos podem criar e
nesses momentos há espaço para toda a ficção. Permitir que haja espaço e tempo
específicos para a total brincadeira e imaginação, sem limites, fará com que no
momento de estar na realidade, o seu filho esteja mais atento.
Ter
alguma calma e paciência. Os miúdos crescem e com o tempo afastam-se mais da
ficção e da fantasia. Que adulto não continua a gostar, de vez em quando, de
fugir para a fantasia e imaginar que voa por cima de uma gigante fila de
trânsito? Ou que é uma mulher cheia de força que enfrenta o chefe e lhe diz
tudo o que já pensou dezenas de vezes?
Criar,
imaginar, fantasiar, ajuda também a crescer e a experimentar identidades,
especialmente nas idades mais precoces. Permita que esse lado de fantasia
exista, tomando as precauções necessárias e ajudando a que, lado a lado,
realidade e ficção possam existir, evitando perigos maiores mas permitindo que
a realidade séria e objectiva não seja a única a existir.
Rita
Castanheira Alves
Psicóloga dos Miúdos
Psicologia Clínica Infantil e Juvenil e Aconselhamento Parental
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