(texto escrito pela psicóloga clínica da Oficina de Psicologia, Helena Almeida)
“Não gosto de alface, nem de tomate, nem de couve,
nem…!”
“Só gosto do fiambre da escola!”
“Não quero coisas verdes!”
“ Não gosto, não gosto, não gosto!”
Soa-lhe familiar? Alimentar o seu filho é um desafio?
Sem desesperos!
Explicando: sabores novos, mais intensos ou exóticos
podem ser de facto difíceis para as crianças, por ainda não terem o repertório
nem a maturidade para os apreciar. Às vezes, o “não gosto” é mesmo isso. Outras
vezes nem tanto, e então a correcta gestão destas pequenas-grandes recusas
torna-se imprescídivel para evitar a evolução para quadros de selectividade
alimentar que podem ter reflexos na saúde.
A Selectividade Alimentar caracteriza-se pela recusa na
ingestão de alimentos específicos, por vezes numerosos, cujos nutrientes são
essenciais para o desenvolvimento e saúde a todos os níveis.
Algumas sugestões:
- É importante que comece por avaliar a reação da criança
ao alimento: sem pressões nem sugestões, apresente um novo ingrediente
discretamente e em pouca quantidade. Às vezes, as crianças demoram a
habituar-se aos novos sabores, por isso, insista “sem dar nas vistas”, ou seja,
deixando passar algum tempo, entre outros alimentos que goste, e sem pretensões
de que a criança coma realmente a couve de Bruxelas, por exemplo.
- Entre os 3 e os 5 anos de idade, as crianças tendem a
ser um pouco “alérgicas” às novidades gastronómicas e por vezes até sentem
repulsa em relação a alguns alimentos. Na realidade, o primeiro contacto com um
novo alimento pode ser tão ténue como explorar o aroma, a textura ou a cor, só
mais tarde o sabor e talvez ainda demore um pouco a aceitar. Por isso,
sugere-se a colaboração da criança na lavagem da salada, por exemplo.
- Os olhos também “comem”! Por isso, dê asas à
criatividade: faça da salada uma cara, do arroz um campo de neve ou do
esparguete os cabelos despenteados da Rapunzel. A forma como apresentamos a
refeição é determinante para a disposição para a ingerir.
- Perante um prato cheio, a criança pode, desde logo, ter
tendência à recusa. Pouca quantidade pode ser a estratégia para que, de facto, aceite comer.
- Alguns “sinais vermelhos”: evite recorrer a recompensas
como sobremesas apetecíveis ou atividades atractivas. Recusaria oferecer o
gelado depois de o ter sugerido? Ao fazer isso fará com que a criança espere
sempre uma recompensa por jantar, quando o que desejamos é promover uma relação
mais saudável com a alimentação.
- Não funcionou hoje? Não faz mal. Provavelmente não tinha
apetite. A atividade física pode ajudar. Crianças menos ativas têm menos apetite.
Promova a prática de atividade física ao final do dia, aproveitando o “pico” de
energia natural desse período do dia.
- Voltou a não colaborar? Será que conta comer umas
bolachinhas em vez do peixe cozido…? Mais um “sinal vermelho”: evitar a todo o
custo compensar uma refeição recusada por outras coisas, deliciosas ou mais do
agrado da criança. Estará a dar força a um comportamento de recusa e exigência
que não será sustentável.
- Por fim, promova o ritual de fazer as refeições em
família. As crianças aceitam melhor alimentos novos ao verem outras pessoas
comê-los e gostarem.
Helena Almeida, Psicóloga Clínica da Oficina de Psicologia
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