terça-feira, 17 de junho de 2014

Alimentação depois do 1º aniversário

(texto escrito pela dietista Ana Rodrigues Lopes)


Provavelmente vai notar no seu filho uma diminuição acentuada do apetite após o 1º ano.

Virar a cabeça após algumas colheradas, exigências sobre o que come e resistência a chegar à mesa para a refeição, podem tornar-se situações frequentes. Mas existe uma boa razão para isto acontecer: a sua taxa de crescimento diminuiu, ou seja, não está a crescer a um ritmo tão acelerado como até agora. Isto significa que não precisa de muita comida para satisfazer as suas necessidades. Com 1 ano de idade, a criança come cerca de 1/3 a metade da quantidade normalmente ingerida por um adulto.

Tente não transformar as refeições em verdadeiras guerras para levá-lo a comer o alimento e a quantidade que você quer. Aliás, quanto mais insiste, menos provável é que ele cumpra. Em vez disso, ofereça-lhe vários alimentos nutritivos, e deixe-o escolher. Varie sabores e consistências o máximo que conseguir. Incentive-o alimentar-se sozinho, oferecendo ajuda quando necessário e tentando não se preocupar demasiado nem pressioná-lo com a limpeza. De seguida ficam algumas dicas do que se deve e não deve fazer/dizer, em situações de birras e/ou rejeições alimentares:

Em vez de…
Tente…
Se não comeres mais uma dentada, vou ficar chateado(a)!

Come isso para eu gostar de ti.

(Ensina a criança que tem de comer para ter o seu carinho e amor)
Esta fruta chama-se kiwi. É doce como um morango!

Estes rabanetes são mesmo estaladiços!

(Ajuda a assinalar as caraterísticas sensoriais e incentiva a criança a experimentar novos alimentos)
Olha para a tua irmã, comeu o prato todo!

Tens de comer mais uma garfada antes de saires da mesa.

(Ensina a criança a ignorar os sinais de saciedade. O melhor para a criança é parar de comer quando está satisfeita e não quando acabou o prato todo).
O teu estômago já te está a dizer que está cheio?

O teu estômago ainda está a fazer aquele rosnar da fome?

(Ajuda a criança a reconhecer quando está satisfeita. Ajuda a prevenir o excesso de ingestão alimentar)
Vês, não sabe assim tão mal, pois não?



(Sugere à criança que ele estava errado em rejeitar o alimento, e que o “certo” é gostar).
Gostas deste alimento?

Qual deles é o teu preferido?

(Fazem a criança sentir que tem poder de escolha)
Não há sobremesa/doce até comeres os vegetais todos.

Se parares de chorar dou-te um chocolate/doce.





(Passa a ideia de que alguns alimentos são melhores que outros. Ter um doce como recompensa por algo, ensina a criança a querer comê-lo para se sentir melhor e preferi-los a alimentos mais saudáveis.)
Podemos comer estes vegetais noutra altura.


Para a próxima gostavas de experimentá-los crus em vez de cozidos?

Não fiques assim triste. Vem cá e dá-me um abraço!

(Recompense a criança com atenção e carinho e dê-lhe sempre opção de escolha dentro das opções mais saudáveis)


Se ele rejeitar tudo o que lhe oferecer, pode guardar a refeição para mais tarde, quando ele tiver fome. Apesar disto, não o deixe andar a petiscar bolachas ou doces depois de ele ter rejeitado a refeição, uma vez que só alimentará o seu interesse por alimentos ricos em “calorias vazias” (aqueles têm muitas calorias, mas não têm nutrientes importantes como vitaminas e minerais e em vez disso são ricos em açúcares simples e gorduras saturadas), e diminuir o seu interesse pelos mais ricos em nutrientes.

Aliás, para muitos pais, quando na consulta do 1º ano o pediatra diz que a criança já pode comer “de tudo”, deixa de haver o cuidado extremo que existia e começa a ser oferecido todo o tipo de alimentos. Deve continuar a haver a preocupação com a alimentação saudável, uma vez que uma alimentação rica em gorduras e açúcares simples está associada ao desenvolvimento de excesso de peso, doenças metabólicas e outras complicações. Sabe-se ainda que a exposição a alimentos saudáveis nos primeiros anos de vida aumenta a probabilidade da criança adotar esses hábitos alimentares na adolescência e na vida adulta.

E, não se esqueça: as crianças nestas idades são uns “macaquinhos de imitação”, e imitam as pessoas de quem mais gostam e mais próximas estão de si (os pais, irmãos, avós…). Na alimentação é idêntico. Um bom exemplo é sempre a melhor lição.

Dra. Ana Rodrigues Lopes  | CP nº 2069D
Dietista da Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação Cacém
E-mail: anarodlopes@gmail.com

Fontes:
Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia (2010). Saunders Elsevier; 12ªedição.
“What you say really matters?” Feeding young children in group settings. USDA.


2 comentários:

  1. Nesta época de calor as crianças ainda ficam mais inibidas ao apetite. É preciso saber explicar-lhes a eles e a nós que alimentação é muito do que eles são física e emocionalmente. Gostei das tentativas que funcionam quase sempre!

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