terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Nutrição na Gravidez: um aspeto crucial na saúde da mãe e do bebé

(texto escrito pela dietista Ana Rodrigues Lopes)

Foto retirada da Internet.

Uma das coisas mais importantes que uma mãe pode fazer pelo seu filho, antes de ele nascer, é ter um estilo de vida saudável durante a gravidez, o que inclui:

Ter um ganho de peso adequado;
Fazer atividade física apropriada;
Realizar uma alimentação saudável e equilibrada;
Fazer suplementação vitamínica e mineral adequada;
Evitar álcool, tabaco e outras substâncias perigosas;
Manipular os alimentos de forma segura, para evitar contaminações.

Ganho de peso durante a gravidez

O peso que a mãe irá ganhar durante a gravidez deverá ser calculado de acordo com o seu Índice de Massa Corporal (IMC) antes da gravidez. O IMC corresponde à relação entre o seu peso e a sua altura (IMC = peso/altura2).


Um estado nutricional adequado é fundamental antes, durante e após a gravidez, de forma a otimizar a saúde da mãe, prevenir complicações na gravidez e no parto e garantir o aporte de nutrientes que o feto necessita para crescer e se desenvolver de forma adequada.

Necessidades energéticas

Uma mulher grávida tem necessidades aumentadas de energia (kcal), comparativamente a uma mulher que não esteja grávida. As suas necessidades em termos de energia vão aumentando com o avançar da gravidez:

No 1º trimestre: não existe aumento das suas necessidades energéticas totais (NET);
No 2º trimestre: deverá acrescentar cerca de 330 kcal às suas NET;
No 3º trimestre: deverá acrescentar cerca de 452 kcal às suas NET.

Por exemplo: uma mulher com NET de 1900 kcal/dia, quando engravida, necessitará de 1900 kcal/dia durante o 1º trimestre, 2230 kcal/dia durante o 2º trimestre e 2352 kcal/dia durante o 3º trimestre.

Por ter as necessidades aumentadas, não significa que a grávida deva comer por dois. Deverá, sim, preocupar-se mais com a qualidade da dieta, ao invés da quantidade. A maioria das mulheres grávidas necessita entre 2200 e 2900 kcal por dia, o que pode variar com alguns fatores como o IMC, o ganho de peso durante a gravidez, a idade e a atividade física.

A partir do 2º trimestre, uma mulher grávida deverá ingerir, em média, as seguintes porções dos grupos da Roda dos Alimentos Portuguesa (pode ser feito o download do folheto aqui)

7 a 10 porções do grupo dos Cereais, Derivados e Tubérculos;
4 porções do grupo dos Hortícolas;
-  4 porções do grupo da Fruta;
-  3 porções do grupo dos Laticínios; 
4 porções do grupo da Carne, Pescado e Ovos;
2 porções do grupo das Leguminosas;
2 porções do grupo das gorduras e óleos.

Foto retirada da Internet.

Necessidades nutricionais

As necessidades de alguns nutrientes estão também aumentadas durante a gravidez, como é o caso das proteínas e algumas vitaminas e minerais, em especial o ácido fólico (ou folato), o ferro e o iodo.

Ácido fólico: uma mulher adulta necessita de 400 μg de ácido fólico por dia. Quando engravida, as suas necessidades diárias nesta vitamina sobem para 600 μg. O Institute of Medicine recomenda que 400 destes 600 μg sejam fornecidos por suplementação ou por alimentos enriquecidos em folato, devido a ser melhor absorvido por estas fontes, devendo os restantes 200 μg provir dos alimentos.

O adequado aporte de ácido fólico antes e durante a gravidez previne malformações no feto.

Fontes de ácido fólico incluem: hortícolas, especialmente vegetais de folha verde (como espinafres, brócolos, couves…), cereais fortificados, leguminosas (feijão, grão, ervilhas…), e frutos como laranja, morangos, banana, kiwi…

Ferro: uma mulher adulta necessita de 18 mg de ferro por dia. Quando engravida, passa a necessitar de 27 mg por dia. É raro uma mulher tornar-se grávida com reservas suficientes de ferro para suprir as necessidades fisiológicas da gravidez. Portanto, é frequentemente necessária a suplementação com ferro, para prevenir a anemia por deficiência de ferro (definida por uma concentração de Hemoglobina inferior a 11g/dL). Uma mulher com anemia não tolera bem a hemorragia decorrente do parto. Existem ainda possíveis consequências, como baixo peso ao nascer, parto prematuro e aumento da mortalidade perinatal.

Fontes alimentares de ferro incluem: Vísceras, carne, pescado e gema de ovo.

Iodo: as necessidades diárias deste mineral aumentam de 150 μg na mulher adulta para 220 μg na mulher adulta grávida. O iodo é um importante constituinte das hormonas da tiróide, as quais têm funções importantes no metabolismo e desempenham um papel determinante no crescimento e desenvolvimento dos órgãos, especialmente do cérebro. A deficiência materna de iodo é reconhecida há muitos anos como uma causa para o cretinismo neonatal, uma deficiência mental provocada por falta de hormonas da tiróide. Uma diretriz recente da Direção-Geral da Saúde recomenda a suplementação de iodo na preconceção (150 a 200 μg/dia), durante a gravidez e enquanto o aleitamento materno exclusivo durar.

Fontes alimentares de iodo incluem: algas, peixe, leite e seus derivados e alguns hortícolas.

Antes de engravidar ou de tomar qualquer tipo de suplementação, deverá consultar um profissional de saúde.


Dra. Ana Rodrigues Lopes
Dietista da Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação do Cacém
Membro da Associação Portuguesa de Dietistas
E-mail: anarodlopes@gmail.com


Fontes:
Escott-Stump S, Kathleen Mahan L. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia (2010). Saunders Elsevier; 12ªedição.
Journal of the American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: Nutrition and Lifestyle for a Healthy Pregnancy Outcome (2008).
Organização Mundial de Saúde. Diretriz: Suplementação diária de ferro e ácido Fólico em gestantes (2013).
Food and Nutrition Board, Institute of Medicine: Dietary Reference Intakes for Thiamin, Riboflavin, Niacin, Vitamin B6, Folate, Vitamin B12, Pantothenic Acid, Biotin, and Choline (1998); Dietary Reference Intakes for Vitamin A, Vitamin K, Arsenic, Boron, Chromium, Copper, Iodine, Iron, Manganese, Molybdenum, Nickel, Silicon, Vanadium, and Zinc (2001). Washington, DC, The National Academies Press.

Direção-Geral da Saúde. Aporte de iodo em mulheres na preconceção, gravidez e amamentação (2013).

1 comentário:

Arquivo do blogue

Seguidores