quarta-feira, 1 de maio de 2013

O meu parecer sobre o 1º Encontro do Barrigas & Companhia - Parte II


Já aqui escrevi umas linhas sobre este Encontro. Fi-lo ontem, dia em que aconteceu, num post dedicado ao pediatra Mário Cordeiro; o orador que fez as honras da casa e falou de uma trilogia temida por todos os pais: medos, birras e sono.

E porque é que fiz questão de fazer um post só a falar neste pediatra? A verdade é que fiquei muito impressionada com ele. Pela paixão com que fala das crianças e de tudo o que as envolve. Pela sua simplicidade.

De certo modo, acho que tinha receio de dar de caras com uma pessoa arrogante, por ser médico e, ainda por cima, mediático. Sim, é um cliché, mas talvez por isso mesmo. Se fosse esse o caso, lá se ia a imagem que sempre tive da sua pessoa e que a formei na minha cabeça pelos livros que li dele.

Mas não. Ele não só é aquilo que aparenta ser nos livros, como consegue ser muito mais. Ele consegue, genuinamente, pôr-se dentro da cabeça das crianças e percebê-las na sua essência. É mesmo impressionante!!!


A palestra começou com ele a dizer que as crianças estavam em vias de extinção e que começavam a ser um "bicho raro". Mostrou-se preocupado com a baixa natalidade no nosso país, sendo esta uma realidade que considera "dramática". Em tom de desabafo, disse que não era à toa que nos países nórdicos, por exemplo, dão tantos incentivos à natalidade! As coisas são tão simples quanto isto, e passo a citar: "sem crianças, os países acabam!"

Olhem aqui as mummy Bloggers atentas ;) A Ana (Cacomae), a Olga (O Rei Vai Nu), eu e a Sofia (A nuvem de Sofia). Não está na foto, mas também estava lá, a Catarina (Dias de uma princesa).
Depois, e antes de partir para a discussão dos temas que ali nos levava, ele esclareceu a plateia que "a infância é um período que não tem nada de cor-de-rosa, nem de azul bebé, nem sequer de cinzento. A infância é muito negra."

Como foram muitas as coisas ditas - não saberia por onde começar se tivesse de falar em toda a informação que trouxe daquele Encontro - vou só expor algumas das ideias. Vou fazê-lo por tópicos, por achar que é mais simples e mais intuitivo de ler.

- Os pais não gostam que as crianças façam birras. É normal. Mas ainda é mais normal que elas as façam. Como ele explicou, "é bom fazer birras. É bom sinal. As birras mostram que eles têm ambições e não só. As birras são uma reação a algo que nos deixa frustrado e as crianças sentem-se constantemente frustradas. Se elas não reagissem à frustração é que seria mais estranho! Agora, o importante é "ensiná-las a fazer as birras". Sim. Isso mesmo. Ensiná-las!

- Quando lidamos com as birras dos nossos filhos, há que ser meigo, mas firme. Cabe ao adulto ensinar a criança a lidar com as frustrações que sente. Dizer-lhe "não faças birra" ou "está calado", não o vai ajudar em nada!

- A dada altura, Mário Cordeiro disse que nos devíamos reunir mais com os nossos filhos. Fazer umas espécies de "reuniões de negócios familiar", na qual negociamos com eles alguns pontos e avaliamos outros.
Adorei a ideia! ;)

- Os medos são normais. Fazem parte da condição humana. Todos temos medo de algumas coisas e as crianças, para quem tudo é novo e desconhecido, muito mais.

- Podemos comprar para os nosso filhos um "spray anti-monstros", que há à venda em todos os supermercados, "como toda a gente sabe". São sprays cheirosos e, como os monstros são mal-cheirosos, quando usamos estess sprays eles nem se atrevem a aproximar lá de casa!
O discurso pode parecer alucinado, mas também me apaixonou e fez rir :)

- Os medos surgem, sobretudo, à noite. Não só, claro! Mas, por exemplo, quando os nossos filhos têm medo de ficar no quarto sozinhos e insistem para um dos pais ficar com eles, deve-se tentar lidar com a situação sem exaltações. Ele deu um exemplo. Um dos filhos dele pedia-lhe sempre para ele ficar no quarto até adormecer. Ele esperava que o filho estivesse a dormir e, quando achava que ele já estava descansado, levantava-se para sair do quarto. Assim que o fazia, o filho acordava logo. Isto dias e dias seguidos! Inclusive em dias em que ele tinha trabalho para fazer e uma lista interminável de TO DO´s.
Um dia, ele fez ao contrário. Disse ao filho que quando ele achasse que o pai se podia ir embora, para lhe dizer, e que até lá poderia estar descansado que ele não se iria embora. E ele só teve de esperar 10/ 15 minutos.

No fundo, foi uma questão de lhe dar poder. O filho deixou de sentir aquela ansiedade de estar sempre à espera que o pai se fosse embora. A partir daquele momento, ele já sabia com o que podia contar. O pai só se ia embora quando ele dissesse e isso era o suficiente para lhe dar paz e para o tranquilizar.

- Quando as crianças estão com medos, muitas vezes nem sabem de que é que têm medo. Por isso, não basta dizer-lhes para não terem medo. Devemos falar com elas, explicar-lhes que estão seguras, que o pai e a mãe não deixam que nada lhes aconteça. Tentar perceber de que é que têm medo e ensiná-las a racionalizar esses medos.

- O Dr. Mário Cordeiro é contra o co sleeping, que é como quem diz, é contra os filhos dormirem na cama dos pais. Defende que há duas coisas que fazem parte da vida de casal: o leito conjugal e o beijar na boca (ups... que esta última eu faço. Mas vou deixar de fazer. Aos poucos, para não ser um choque para ele). Isto, porque os confundimos ao não delinearmos bem as funções de cada um de nós no triângulo pai, mãe e filho.

- Uma mãe mostrou-se preocupada pelo facto do filho, de quase 3 anos, ter começado a dormir mal à noite, numa fase que coincidiu com o deixar a chucha. O filho deixou a chucha mais por achar que o tinha de fazer (porque já era crescido) e não tanto por o querer fazer. A mãe não sabia se havia uma relação direta, mas dizia que tinha receio que lhe fizesse mal o uso prolongado da chucha.

O Dr. Mário Cordeiro sugeriu-lhe que fizesse uma caminha para a chucha, com a ajuda de uma caixa de fósforos forrada, e que lhe desse a possibilidade de voltar a dormir com a chucha se ele quisesse. Dizer-lhe que se ele quisesse podia voltar a usar chucha, mas que a mãe achava que ele já era crescido. Sugerir-lhe que a chucha dormisse ao pé dele, naquela "caminha", porque ela também estava cansada por ele a ter usado tanto tempo. Deste modo, sabendo que a chucha estava ali, caso ele quisesse, talvez ele deixasse de se sentir tão ansioso e tivesse noites mais calmas.

Mais uma ideia engraçada ;)!

Ainda a este respeito, ele disse que é normal que as crianças mantenham certas "bebézisses" e que NÃO devem ser impedidos de as ter. Não se falou no uso da chucha, mas ele defende que não vê mal nenhum em crianças já crescidas (10 ou 12 anos) quererem dormir com o boneco preferido ou com uma fralda, por exemplo. Ele confessou que ainda hoje tem uma "bebézisse": só come sopa passada!

- Por fim, deixo um tópico sobre uma situação que é cada vez mais comum. Uma mãe levantou a questão da filha, de 3 anos ou perto, ter começado a ter um comportamento mais agressivo e birrento com ela de há uns meses a esta data, coincidindo com a altura em que o marido emigrou para trabalhar.

O Dr. Mário Cordeiro explicou que, realmente, o comportamento pode ter a ver com 3 fatores: o de estar a ganhar a sua individualidade e isso trazer lutas-internas; o de querer distinguir-se da mãe e isso levar a estar sempre a contrariá-la e, por fim, por culpar a mãe por o pai se ter ido embora.

Disse, contudo, que é absolutamente contra o uso do Skype nestas idades como forma de colmatar as saudades. Isto, porque para uma criança a vida funciona muito com os 5 sentidos e usando esta tecnologia ela apenas vê e ouve. O facto de não conseguir tocar (um dos sentidos mais importantes para o ser humano, sobretudo para as crianças), gera nela uma sensação de angústia e frustração. O pediatra prevalece o uso do telefone e de "provas vivas", como cartas, postais, um brinquedo vindo pelos correios... Sugeriu, ainda, que se use as tecnologias para, através do Google Earth, por exemplo, lhe mostrar onde está o pai. É uma forma de tornar a situação mais concreta para a criança.


Relembro que este Encontro foi organizado pelo Barrigas & Companhia, um evento do qual tenho muita honra e gosto em ser "Mãe Amiga", e que acontecerá no dia 7 de julho, no Parque dos Poetas, em Oeiras.

Este Encontro insere-se ainda no âmbito dos Momentos de Partilha, dos quais ou madrinha, a favor da Instituição Make-a-Wish.


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9 comentários:

  1. Obrigada!!!!!
    Adorei o resumo, tive muita pena de não poder ir!
    Um beijinho!

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    1. Eu é que agradeço o elogio. Fico super contente. Ainda mais vindo de uma médica! Que responsabilidade! :) Beijinhos

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    1. Que bommmm. A sério. É tão importante para mim saber que há quem goste e valorize o que escrevo. Obrigada eu pela força!

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  3. Vou repetir, na sua essência, os comentários anteriores. Gostei imenso do resumo, quase me parecia estar a ouvir o Dr. Mário Cordeiro! Obrigada!
    Surpreendeu-me o ser contra o Skype, mas não contra o uso do telefone, com crianças pequenas. Se é pela falta de alguns sentidos, no telefone ainda faltam mais! Mas acho que até percebo o que ele quereria dizer, em relação à ausência do pai. No entanto, noutras situações, o uso do skype permite que familiares distantes se tornem familiares à criança (é o caso de alguns dos meus sobrinhos que nasceram e vivem com os pais no estrangeiro e mantêm contacto com os avós, etc., através do skype). Quando nos encontramos, somos caras conhecidas e o convívio fica facilitado.

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    1. Afinal fui um pouco mais além... mas esqueci uma parte fundamental: Obrigada pela partilha!

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    2. Muito muito obrigada :)
      Em relação ao Skype, e pelo que percebi, é porque havendo imagem, gera uma sensação de frustração e angústia maiores. Porque para a criança a pessoa está lá, mas não pode tocar-lhe. É mais por aí. Mas ele estava a falar no caso de uma criança de 3 anos. Quando eles são maiorzitos é diferente! :)

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  4. Gostei muito do artigo, apesar de não concordar com algumas coisas.
    A minha filha com cerca de 2 anos e meio ficou umas semanas sem o papá e o skipe era uma ferramenta excelente, ela adorava ver e falar com o papá. Também falava no telefone.
    Em relação ao co-sleeping acho que isso depende muito dos pais e dos filhos. A minha filha, agora com 3 anos adormece sempre conosco, na nossa cama, sempre foi assim desde que nasceu (primeiro porque adormecia a mamar e depois porque...era bom). Todos gostamos, nós e ela. Quando adormece o papá leva-a para o quarto (inicialmente para o berço no nosso quarto) e ela passa lá a noite. tem perfeita noção que aquele é o nosso quarto e o outro é o dela. Acho que como em muitas coisas depende de cada um, cada criança é uma criança e os pais também são diferentes. Se notasse a minha filha muito dependende ou com qualquer característica que me fizesse pensar que não devia dormir connosco alteraria a rotina mas não, acho que não lhe faz mal nenhum. É um bocadinho muito apreciado por nós todos o ir deitar, todos juntos, enquanto ela quiser será assim.
    É sempre bom saber a opinião dos especialistas, de qualquer forma, gostei muito do post, obrigada pela partilha.

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    1. Sim, claro Liliana Neto. Acho que, independentemente dos conselhos e conhecimentos teóricos dos profissionais de saúde, cabe aos pais terem (TAMBÉM) a sensibilidade para perceberem se o que se diz é aplicável ou não ao seu filho. Cada criança é diferente e, por isso, é impossível haver uma "regra" que seja universal e aplicável a todas elas. Pelo menos em algumas situações!
      Ainda bem que gostou :) beijinhos

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